Sonetos sobre Riso de António Gomes Leal

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Sonetos de riso de António Gomes Leal. Leia este e outros sonetos de António Gomes Leal em Poetris.

Na Rua

Veijo-a sempre passar séria, constante,
– Às vezes, inclinada na janella, –
Tranquilla, fria, e pallido o semblante,
Como uma santa triste de capella.

Seu riso sem callor como o brilhante
No nosso labio o proprio riso gella,
E ella nasceu para chorar diante
D’um Christo n’uma estreita e escura cella.

Seu olhar virginal como as crianças
Jamais disse do amor as cousas mansas;
Jamais vergou da Força ao choque rude.

Abrasa-a um fogo divinal secreto! –
eu sinto, mal a avisto, ao seu aspecto,
O brio intenso e negro da Virtude.

A Joven Miss

Ella é tão loura, lyrica, franzina,
Tão mimosa, quieta, e virginal,
Como uma bella virgem d’um missal
Toda dourada, e preciosa e fina!

Não ha graça mais casta e femenina
Do que a d’ella! Seu riso angelical
Cria em nós todo um mundo de moral,
Melhor que tudo o que Platão ensina!

Por isso; e pela sua castidade,
Deve ser goso intenso, na verdade,
Sentir fundir-se em nós seus olhos regios!..

E o goso de a beijar trémula, amante,
Deve ser quasi extranho! – e semelhante
Ao de fazer terriveis sacrilegios.