Julieta
A loura Julieta enamorada,
Triste, lĂąnguida, pĂĄlida, abatida,
Aparece radiante na sacada
Dos raios brancos do luar ferida.Engolfa o olhar na sombra condensada,
Perscruta, busca em torno… e na avenida
Surge Romeu; da valerosa espada
Esplende a clara lĂąmina polida…Sente-se o arfar de sĂŽfregos desejos,
Estoura no ar um turbilhĂŁo de beijos,
Mas o dia reponta!… Ă indiscretaDa cotovia matinal garganta!
Ă perigo do amor, que o amor quebranta!
Ă noites de Verona! Ă Julieta!
Sonetos sobre Sombra de Raimundo Correia
5 resultadosBanzo
VisĂ”es que na alma o cĂ©u do exĂlio incuba,
Mortais visĂ”es! Fuzila o azul infando…
Coleia, basilisco de ouro, ondeando
O NĂger… Bramem leĂ”es de fulva juba…Uivam chacais… Ressoa a fera tuba
Dos cafres, pelas grotas retumbando,
E a estrelada das ĂĄrvores, que um bando
De paquidermes colossais derruba…Como o guaraz nas rubras penhas dorme,
Dorme em nimbos de sangue o sol oculto…
Fuma o saibro africano incandescente…Vai com a sombra crescendo o vulto enorme
Do baobĂĄ… E cresce na alma o vulto
De uma tristeza, imensa, imensamente…
Anoitecer
Esbraseia o Ocidente na Agonia
O sol… Aves, em bandos destacados,
Por cĂ©us de ouro e de pĂșrpuras raiados,
Fogem… Fecha-se a pĂĄlpebra do dia…Delineiam-se, alĂ©m, da serrania
Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia…Um mundo de vapores no ar flutua…
Como uma informe nĂłdoa, avulta e cresce
A sombra, ĂĄ proporção que a luz recua…A natureza apĂĄtica esmaece…
Pouco a pouco, entre as ĂĄrvores, a lua
Surge trĂȘmula, trĂȘmula… Anoitece.
O Monge
-“O coração da infĂąncia”, eu lhe dizia,
“Ă manso.” E ele me disse:-“Essas estradas,
Quando, novo Eliseu, as percorria,
As crianças lançavam-me pedradas…”Falei-lhe entĂŁo na glĂłria e na alegria;
E ele-alvas barbas longas derramadas
No burel negro-o olhar somente erguia
Ăs cĂ©rulas regiĂ”es ilimitadas…Quando eu, porĂ©m, falei no amor, um riso
SĂșbito as faces do impassĂvel monge
Iluminou… Era o vislumbre incerto,Era a luz de um crepĂșsculo indeciso
Entre os clarÔes de um sol que jå vai longe
E as sombras de uma noite que vem perto!…
Fetichismo
Homem, da vida as sombras inclementes
Interrogas em vĂŁo: – Que cĂ©us habita
Deus? Onde essa regiĂŁo de luz bendita,
ParaĂso dos justos e dos crentes?…Em vĂŁo tateiam tuas mĂŁos trementes
As entranhas da noite erma, infinita,
Onde a dĂșvida atroz blasfema e grita,
E onde hĂĄ sĂł queixas e ranger de dentes…A essa abĂłbada escura, em vĂŁo elevas
Os braços para o Deus sonhado, e lutas
Por abarcĂĄ-lo; Ă© tudo em torno trevas…Somente o vĂĄcuo estreitas em teus braços;
E apenas, pĂĄvido, um ruĂdo escutas,
Que Ă© o ruĂdo dos teus prĂłprios passos!…