Sonetos sobre Sorriso de Florbela Espanca

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Sonetos de sorriso de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

O Nosso Livro

Livro do meu amor, do teu amor,
Livro do nosso amor, do nosso peito…
Abre-lhe as folhas devagar, com jeito,
Como se fossem pétalas de flor.

Olha que eu outro já não sei compor
Mais santamente triste, mais perfeito
NĂŁo esfolhes os lĂ­rios com que Ă© feito
Que outros nĂŁo tenho em meu jardim de dor!

Livro de mais ninguém! Só meu! Só teu!
Num sorriso tu dizes e digo eu:
Versos sĂł nossos mas que lindos sois!

Ah, meu Amor! Mas quanta, quanta gente
Dirá, fechando o livro docemente:
“Versos sĂł nossos, sĂł de nĂłs os dois!…”

Quem?

NĂŁo sei quem Ă©s. Já nĂŁo te vejo bem…
E ouço-me dizer (ai, tanta vez!…)
Sonho que um outro sonho me desfez?
Fantasma de que amor? Sombra de quem?

NĂ©voa? Quimera? Fumo? Donde vem?…
– NĂŁo sei se tu, amor, assim me vĂŞs!…
Nossos olhos nĂŁo sĂŁo nossos, talvez…
Assim, tu nĂŁo Ă©s tu! NĂŁo Ă©s ninguĂ©m!…

És tudo e nĂŁo Ă©s nada… És a desgraça…
És quem nem sequer vejo; Ă©s um que passa…
És sorriso de Deus que nĂŁo mereço…

És aquele que vive e que morreu…
És aquele que Ă© quase um outro eu…
És aquele que nem sequer conheço…

Versos

Versos! Versos! Sei lá o que sĂŁo versos…
Pedaços de sorriso, branca espuma,
Gargalhadas de luz, cantos dispersos,
Ou pĂ©talas que caem uma a uma…

Versos!… Sei lá! Um verso Ă© o teu olhar,
Um verso Ă© o teu sorriso e os de Dante
Eram o teu amor a soluçar
Aos pés da sua estremecida amante!

Meus versos!… Sei eu lá tambĂ©m que sĂŁo…
Sei lá! Sei lá!… Meu pobre coração
Partido em mil pedaços sĂŁo talvez…

Versos! Versos! Sei lá o que sĂŁo versos…
Meus soluços de dor que andam dispersos
Por este grande amor em que nĂŁo crĂŞs…