Sonetos sobre Surdos de Alberto d'Oliveira

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Sonetos de surdos de Alberto d'Oliveira. Leia este e outros sonetos de Alberto d'Oliveira em Poetris.

No Penedo da Meditação

Aprende-se atĂ© morrer…
Mas eu fui mais refractário:
Morrerei sem aprender,
Vida, o teu abecedário!

Nem a Dor, nem o Prazer,
No seu vaivém arbitrário,
Souberam dar ao meu ser
As regras do seu fadário.

O céu trasborda de estrelas,
Mas Ă© cifrado e secreto
Para mim, que nĂŁo sei lĂŞ-las.

Cego, surdo, analfabeto,
De nada entendo o motivo,
Nem quem sou, nem porque vivo…

Choro De Vagas

Não é de águas apenas e de ventos,
No rude som, formada a voz do Oceano.
Em seu clamor – ouço um clamor humano;
Em seu lamento – todos os lamentos.

São de náufragos mil estes acentos,
Estes gemidos, este aiar insano;
Agarrados a um mastro, ou tábua, ou pano,
Vejo-os varridos de tufões violentos;

Vejo-os na escuridĂŁo da noite, aflitos,
Bracejando ou já mortos e de bruços,
Largados das marĂ©s, em ermas plagas…

Ah! que sĂŁo deles estes surdos gritos,
Este rumor de preces e soluços
E o choro de saudades destas vagas!