Ariana
Ela Ă© o tipo perfeito da ariana,
Branca, nevada, pĂşbere, mimosa,
A carne exuberante e capitosa
Trescala a essĂŞncia que de si dimana.As nĂveas pomas do candor da rosa,
Rendilhando-lhe o colo de sultana,
Emergem da camisa cetinosa
Entre as rendas sutis de filigrana.Dorme talvez. Em flácido abandono
Lembra formosa no seu casto sono
A languidez dormente da indiana,Enquanto o amante pálido, a seu lado
Medita, a fronte triste, o olhar velado
No Mistério da Carne Soberana
Sonetos sobre Tristes de Augusto dos Anjos
23 resultadosEterna Mágoa
O homem por sobre quem caiu a praga
Da tristeza do Mundo, o homem que Ă© triste
Para todos os séculos existe
E nunca mais o seu pesar se apaga!Não crê em nada, pois, nada há que traga
Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.
Quer resistir, e quanto mais resiste
Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.Sabe que sofre, mas o que nĂŁo sabe
E que essa mágoa infinda assim não cabe
Na sua vida, é que essa mágoa infindaTranspõe a vida do seu corpo inerme;
E quando esse homem se transforma em verme
É essa mágoa que o acompanha ainda!
PlenilĂşnio
Desmaia o plenilúnio. A gaze pálida
Que lhe serve de alvĂssimo sudário
Respira essências raras, toda a cálida
MĂstica essĂŞncia desse alampadário.E a lua Ă© como um pálido sacrário,
Onde as almas das virgens em crisálida
De seios alvos e de fronte pálida,
Derramam a urna dum perfume vário.Voga a lua na etérea imensidade!
Ela, eterna noctâmbula do Amor,
Eu, noctâmbulo da Dor e da Saudade.Ah! como a branca e merencórea lua,
TambĂ©m envolta num sudário – a Dor,
Minh’alma triste pelos cĂ©us flutua!