Sonetos sobre Crença

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Sonetos de crença escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Assim Seja!

Fecha os olhos e morre calmamente!
Morre sereno do Sever cumprido!
Nem o mais leve, nem um sĂł gemido
Traia, sequer, o teu Sentir latente.

Morre com alma leal, clarividente,
Da crença errando no Vergel florido
E o Pensamento pelos céus, brandido
Como um glĂĄdio soberbo e refulgente.

Vai abrindo sacrĂĄrio por sacrĂĄrio
Do teu sonho no Templo imaginĂĄrio,
Na hora glacial da negra Morte imensa…

Morre com o teu Dever! Na alta confiança
De quem triunfou e sabe que descansa
Desdenhando de toda a Recompensa!

Natureza

Aos Poetas

Tudo por ti resplende e se constela,
Tudo por ti, suavĂ­ssimo, flameja;
És o pulmão da racional peleja,
Sempre viril, consoladora e bela.

Teu coração de pérolas se estrela,
E o bom falerno dĂĄs a quem deseja
Vigor, saĂșde a crença que floreja,
Que as expansÔes do cérebro revela.

Toda essa luz que bebe-se de um hausto
Nos livros sĂŁos, todo esse enorme fausto
Vem das verduras brandas que reluzem!

Esse da idĂ©ia esplĂȘndido eletrismo,
O forte, o grande, audaz psicologismo,
Os organismos naturais produzem…

Trabalho E Luz I

Luz e trabalho, eis a divisa imensa
Da nova legiĂŁo de um mundo novo.
Das ĂĄguias do porvir fecunde-se o ovo
No vigor do trabalho unido à crença.

D’ĂĄrvore humanidade Ă  luz intensa
Do livre ensino brota o sĂŁo renovo
Rico de luz se nobilita o povo
Do trabalho na santa recompensa.

Trabalham para a luz almas, que alentam
O brilho do trabalho. Os benefĂ­cios
Da luz da educação a Deus contentam.

Trabalho e luz contra o furor dos vĂ­cios,
No trabalho e na luz que a paz sustentam,
GlĂłria ao Liceu de Artes e de OfĂ­cios.

Amor E Crença

E sĂȘ bendita!
H. Sienkiewicz

Sabes que Ă© Deus?! Esse infinito e santo
Ser que preside e rege os outros seres,
Que os encantos e a força dos poderes
ReĂșne tudo em si, num sĂł encanto?

Esse mistério eterno e sacrossanto,
Essa sublime adoração do crente,
Esse manto de amor doce e clemente
Que lava as dores e que enxuga o pranto?!

Ah! Se queres saber a sua grandeza,
Estende o teu olhar Ă  Natureza,
Fita a cĂșp’la do CĂ©u santa e infinita!

Deus Ă© o templo do Bem. Na altura Imensa,
O amor é a hóstia que bendiz a Crença,
ama, pois, crĂȘ em Deus, e… sĂȘ bendita!

Luz Da Natureza

Luz que eu adoro, grande Luz que eu amo,
Movimento vital da Natureza,
Ensina-me os segredos da Beleza
E de todas as vozes por quem chamo.

Mostra-me a Raça, o peregrino Ramo
Dos Fortes e dos Justos da Grandeza,
Ilumina e suaviza esta rudeza
Da vida humana, onde combato e clamo.

Desta minh’alma a solidĂŁo de prantos
Cerca com os teus leÔes de brava crença,
Defende com so teus glĂĄdios sacrossantos.

DĂĄ-me enlevos, deslumbra-me, da imensa
Porta esferal, dos constelados mantos
Onde a FĂ© do meu Sonho se condensa!

A Musa Venal

Musa do meu amor, Ăł principesca amante,
Quando o inverno chegar, com seus ventos irados
Pelos longos serÔes, de frio tiritante,
Com que hås-de acalentar os pésitos gelados?

Tencionas aquecer o colo deslumbrante
Com os raios de luz pelos vidros filtrados?
Tendo a casa vazia e a bolsa agonizante
o ouro vais roubar aos céus iluminados?

Precisas, para obter o triste pĂŁo diĂĄrio,
Fazer de sacristĂŁo e de turibulĂĄrio,
Entoar um Te-Deum, sem crença nem favor,

Ou, como um saltimbanco esfomeado, mostrar
As tuas perfeiçÔes, atravĂ©s d’um olhar
Onde ocultas, a rir, o natural pudor!

Tradução de Delfim Guimarães

O Teu Olhar

Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas, pendÔes ao vento sobranceiros,
Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente, em brasa, como beijos,

Mares onde nĂŁo cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros,
Todo um povo de herĂłis e marinheiros,
Lanças nuas em rĂștilos lampejos;

Passam lendas e sonhos e milagres!
Passa a Índia, a visão do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-te tĂŁo grande, ao ver-te assim,
Amor, julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!

Ouvi, Senhora, O CĂąntico Sentido

Ouvi, senhora, o cĂąntico sentido
Do coração que geme e s’estertora
N’Ăąnsia letal que o mata e que o devora,
E que tornou-o assim, triste e descrido.

Ouvi, senhora, amei; de amor ferido,
As minhas crenças que alentei outrora
Rolam dispersas, pĂĄlidas agora,
Desfeitas todas num guaiar dorido.

E como a luz do sol vai-se apagando!
E eu triste, triste pela vida afora,
Eterno pegureiro caminhando,

Revolvo as cinzas de passadas eras,
Sombrio e mudo e glacial, senhora,
Como um coveiro a sepultar quimeras!

Última Deusa

Foram-se os deuses, foram-se, eu verdade;
Mas das deusas alguma existe, alguma
Que tem teu ar, a tua majestade,
Teu porte e aspecto, que és tu mesma, em suma.

Ao ver-te com esse andar de divindade,
Como cercada de invisĂ­vel bruma,
A gente à crença antiga se acostuma
E do Olimpo se lembra com saudade.

De lå trouxeste o olhar sereno e garço,
O alvo colo onde, em quedas de ouro tinto,
RĂștilo rola o teu cabelo esparto…

Pisas alheia terra… Essa tristeza
Que possuis Ă© de estĂĄtua que ora extinto
Sente o culto da forma e da beleza.

Diz-me, Amor, como Te Sou Querida

Diz-me, amor, como te sou querida,
Conta-me a glĂłria do teu sonho eleito,
Aninha-me a sorrir junto ao teu peito,
Arranca-me dos pĂąntanos da vida.

Embriagada numa estranha lida,
Trago nas mãos o coração desfeito,
Mostra-me a luz, ensina-me o preceito
Que me salve e levante redimida!

Nesta negra cisterna em que me afundo,
Sem quimeras, sem crenças, sem turnura,
Agonia sem fé dum moribundo,

Grito o teu nome numa sede estranha,
Como se fosse, amor, toda a frescura
Das cristalinas ĂĄguas da montanha!

Campesinas VIII

Orgulho das raparigas,
Encanto ideal dos rapazes,
Acendes crenças vivazes
Com tuas belas cantigas.

No louro ondear das espigas,
Boca cheirosa a lilazes,
Carne em polpa de ananases
Lembras baladas antigas.

Tens uns tons enevoados
De castelos apagados
Nas eras medievais.

Falta-te o pajem na ameia
Dedilhando, a lua cheia,
O bandolim dos seus ais!

Vandalismo

Meu coração tem catedrais imensas,
Templos de priscas e longĂ­nquas datas,
Onde um nume de amor, em serenatas,
Canta a aleluia virginal das crenças.

Na ogiva fĂșlgida e nas colunatas
Vertem lustrais irradiaçÔes intensas
CintilaçÔes de lùmpadas suspensas
E as ametistas e os florÔes e as pratas.

Como os velhos TemplĂĄrios medievais
Entrei um dia nessas catedrais
E nesses templos claros e risonhos …

E erguendo os glĂĄdios e brandindo as hastas,
No desespero dos iconoclastas
Quebrei a imagem dos meus prĂłprios sonhos!

Tempos Idos

NĂŁo enterres, coveiro, o meu Passado,
Tem pena dessas cinzas que ficaram;
Eu vivo dessas crenças que passaram,
e quero sempre tĂȘ-las ao meu lado!

NĂŁo, nĂŁo quero o meu sonho sepultado
No cemitério da Desilusão,
Que nĂŁo se enterra assim sem compaixĂŁo
Os escombros benditos de um Passado!

Ai! NĂŁo me arranques d’alma este conforto!
– Quero abraçar o meu passado morto,
– Dizer adeus aos sonhos meus perdidos!

Deixa ao menos que eu suba Ă  Eternidade
Velado pelo cĂ­rio da Saudade,
Ao dobre funeral dos tempos idos!

Um Soneto

A vez primeira que eu te vi, em meio
Das harmonias de uma valsa, elado
O lĂĄbio trĂȘmulo, esplĂȘndido, rosado,
Num riso, um riso de alvoradas cheio.

Cheio de febres, em febril anseio
O meu olhar fervente, desvairado
Como um condor de flamas emplumado
Vingou-se a espĂĄdua e devorou-te o seio.

Depois, delĂ­rio atroz, loucura imensa!
A alma, o bem, a consciĂȘncia, a crença
Lancei no incĂȘndio dos olhares teus…

Hoje estou pronto Ă  lĂ­vida jornada
Da descrença sem luz, da dor do nada…
JĂĄ disse ontem Ă  noite, adeus, a Deus!

Mocidade

Ah! esta mocidade! — Quem Ă© moço
Sente vibrar a febre enlouquecida
Das ilusÔes, da crença mais florida
Na muscular artĂ©ria de Colosso…

Das incertezas nunca mede o poço…
Asas abertas — na amplidĂŁo da vida,
PĂĄramo a dentro — de cabeça erguida,
VĂȘ do futuro o mais alegre esboço…

Chega a velhice, a neve das idades
E quem foi moço, volve, com saudades,
Do azul passado, o fulgido compĂȘndio…

Ai! esta mocidade palpitante,
Lembra um inseto de ouro, rutilante,
Em derredor das chamas de um incĂȘndio!

Ave Dolorosa

Ave perdida para sempre – crença
Perdida – segue a trilha que te traça
O Destino, ave negra da Desgraça,
GĂȘmea da MĂĄgoa e nĂșncia da Descrença!

Dos sonhos meus na Catedral imensa
Que nunca pouses. Lå, na névoa baça
Onde o teu vulto lĂșrido esvoaça,
Seja-te a vida uma agonia intensa!

Vives de crenças mortas e te nutres,
Empenhada na sanha dos abutres,
Num desespero rĂĄbido, assassino…

E hĂĄs de tombar um dia em mĂĄgoas lentas,
Negrejadas das asas lutulentas
Que te emprestar o corvo do Destino!

Amor E ReligiĂŁo

Conheci-o: era um padre, um desses santos
Sacerdotes da Fé de crença pura,
Da sua fala na eternal doçura
Falava o coração. Quantos, oh! Quantos

Ouviram dele frases de candura
Que d’infelizes enxugavam prantos!
E como alegres nĂŁo ficaram tantos
CoraçÔes sem prazer e sem ventura!

No entanto dizem que este padre amara.
Morrera um dia desvairado, estulto,
Su’alma livre para o CĂ©u se alara.

E Deus lhe disse: “És duas vezes santo,
Pois se da ReligiĂŁo fizeste culto,
Foste do amor o mĂĄrtir sacrossanto.”

Crença

Filha do céu, a pura crença é isto
Que eu vejo em ti, na vastidĂŁo das cousas,
Nessa mudez castĂ­ssima das lousas,
No belo rosto sonhador do Cristo.

A crença é tudo quanto tenho visto
Nos olhos teus, quando a cabeça pousas
Sobre o meu colo e que dizer nĂŁo ousas
Todo esse amor que eu venço e que conquisto.

A crença é ter os peregrinos olhos
Abertos sempre aos rĂ­spidos escolhos;
TĂȘ-los Ă  frente de qualquer farol

E conservĂĄ-los, simplesmente acesos
Como dois fachos — engastados, presos
Nas radiaçÔes prismåticas do sol!

Aos Olhos Dele

Não acredito em nada. As minhas crenças
Voaram como voa a pomba mansa,
Pelo azul do ar. E assim fugiram o
As minhas doces crenças de criança.

Fiquei então sem fé; e a toda gente
Eu digo sempre, embora magoada:
NĂŁo acredito em Deus e a Virgem Santa
É uma ilusão apenas e mais nada!

Mas avisto os teus olhos, meu amor,
Duma luz suavĂ­ssima de dor…
E grito então ao ver esses dois céus:

Eu creio, sim, eu creio na Virgem Santa
Que criou esse brilho que m’encanta!
Eu creio, sim, creio, eu creio em Deus!

Ó Páginas Da Vida Que Eu Amava

Ó páginas da vida que eu amava,
Rompei-vos! nunca mais! tĂŁo desgraçado!…
Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!

E que doido que eu fui! como eu pensava
Em mĂŁo, amor de irmĂŁ! em sossegado
Adormecer na vida acalentado
Pelos lĂĄbios que eu tĂ­mido beijava!

Embora – Ă© meu destino. Em treva densa
Dentro do peito a existĂȘncia finda…
Pressinto a morte na fatal doença!…

A mim a solidĂŁo da noite infinda!
Possa dormir o trovador sem crença…
Perdoa, minha mĂŁo – eu te amo ainda!