Ă PĂĄginas Da Vida Que Eu Amava
Ă pĂĄginas da vida que eu amava,
Rompei-vos! nunca mais! tĂŁo desgraçado!…
Ardei, lembranças doces do passado!
Quero rir-me de tudo que eu amava!E que doido que eu fui! como eu pensava
Em mĂŁo, amor de irmĂŁ! em sossegado
Adormecer na vida acalentado
Pelos lĂĄbios que eu tĂmido beijava!Embora – Ă© meu destino. Em treva densa
Dentro do peito a existĂȘncia finda…
Pressinto a morte na fatal doença!…A mim a solidĂŁo da noite infinda!
Possa dormir o trovador sem crença…
Perdoa, minha mĂŁo – eu te amo ainda!
Sonetos sobre Crença
30 resultadosNoiva E Triste
Rola da luz do céu, solta e desfralda
Sobre ti mesma o pavilhão das crenças,
Constele o teu olhar essas imensas
Vagas do amor que no teu peito escalda.A primorosa e lĂmpida grinalda
Hå de enflorar-te as amplidÔes extensas
Do teu pesar — hĂĄ de rasgar-te as densas
Sombras — o vĂ©u sobre a luzente espalda…Inda nĂŁo ri esse teu lĂĄbio rubro
Hoje — inda n’alma, nesse azul delubro
Não fulge o brilho que as paixÔes enastra;Mas, amanhã, no sorridor noivado,
A vida triste por que tens passado,
De madressilvas e jasmins se alastra.
CrĂȘ!
VĂȘ como a Dor te transcendentaliza!
Mas no fundo da Dor crĂȘ nobremente.
Transfigura o teu ser na força crente
Que tudo torna belo e diviniza.Que seja a Crença uma celeste brisa
Inflando as velas dos batéis do Oriente
Do teu Sonho supremo, onipotente,
Que nos astros do céu se cristaliza.Tua alma e coração fiquem mais graves,
Iluminados por carinhos suaves,
Na doçura imortal sorrindo e crendo…Oh! CrĂȘ! Toda a alma humana necessita
De uma Esfera de cĂąnticos, bendita,
Para andar crendo e para andar gemendo!
A Esperança
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo Ă© uma ilusĂŁo completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glĂłria no futuro – avança!E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa!
Sonetos Para Maria Helena
Tu que por crenças vãs a Vida arrasas
e ante o espelho não queres ver que és,
que imagina viver abrindo as asas
e te esqueces de andar com os prĂłprios pĂ©s…Que transforma o Sonho num revĂ©s
mesmo a acender o fogo em que abrasas,
e te algema as mĂŁos, – as mĂŁos escravas
como as do prisioneiro das galés.Tu que te enganas a falar de alturas
com as palavras mais belas e mais puras
e te imolas num gesto superior,nĂŁo percebes nessa Ăąnsia de suicida
que nada hĂĄ enfim mais alto do que a Vida
quando a erguemos num brinde – Ă©brios de amor!
Ă Assim A Vida
Poderias ter sido tudo em minha vida
se ao menos tu tivesses desejado ser…
Dei-te a minha emoção mais profunda e sentida
e o mais profundo amor que concebeu meu Ser!Por esse amor que em vĂŁo tentei te oferecer
eu fui poeta, eu fui criança… e tive a alma iludida!
TraĂ meu ceticismo, e sonhei… e quis crer…
– hoje… volto ao que fui, – a crença perdida…Poderias ter sido tudo em meu destino:
– o meu lar, o meu filho, o meu rumo, o meu hino,
o meu prĂłprio futuro… a obra que ainda nĂŁo fiz…Tudo terias sido… E nĂŁo quiseste nada…
No entanto, ( a vida Ă© assim), – sei de uma outra, coitada,
que se um olhar dou… Ă© a mulher mais feliz!
Soneto
N’augusta solidĂŁo dos cemitĂ©rios,
Resvalando nas sombras dos ciprestes,
Passam meus sonhos sepultados nestes
Brancos sepulcros, pålidos, funéreos.São minhas crenças divinais, ardentes
– Alvos fantasmas pelos merencĂłrios
TĂșmulos tristes, soturnais, silentes,
Hoje rolando nos umbrais marmóreos.Quando da vida, no eternal soluço,
Eu choro e gemo e triste me debruço
Na lĂĄjea fria dos meus sonhos pulcros.Desliza entĂŁo a lĂșgubre coorte,
E rompe a orquestra sepulcral da morte,
Quebrando a paz suprema dos sepulcros.
RuĂnas
I
E Ă© triste ver assim ir desfolhando,
VĂȘ-las levadas na amplidĂŁo do ar,
As ilusÔes que andåmos levantando
Sobre o peito das mĂŁes, o eterno altar.Nem sabe a gente jĂĄ como, nem quando,
HĂĄ-de a nossa alma um dia descansar!
Que as almas vĂŁo perdidas, vĂŁo boiando
Nesta corrente elĂ©ctrica do mar!…Ă ciĂȘncia, minha amante, Ăł sonho belo!
Ăs fria como a folha dum cutelo…
Nunca o teu lĂĄbio conheceu piedade!Mas caia embora o velho paraĂso,
Caia a fé, caia Deus! sendo preciso,
Em nome do Direito e da Verdade.II
Morreu-me a luz da crença â alva cecĂ©m,
Pålida virgem de luzentas tranças
Dorme agora na campa das crianças,
Onde eu quisera repousar também.A graça, as ilusÔes, o amor, a unção,
Doiradas catedrais do meu passado,
Tudo caiu desfeito, escalavrado
Nos tremendos combates da razão.Perdida a fé, esse imortal abrigo,
Fiquei sozinho como herĂłi antigo
Batalhando sem elmo e sem escudo.A implacĂĄvel, a rĂgida ciĂȘncia
Deixou-me unicamente a ProvidĂȘncia,
A Teodoro de Banville
De tal modo agarraste a Deusa pela crina,
Com ar dominador, num gesto sacudido
Que se alguém presencia o caso acontecido
Poderia julgar-te um rufiĂŁo de esquina.Com o lĂmpido olhar, â precoce e ardente vista,
Audaz, vais expandido o orgulho de arquitecto
Em nobres produçÔes, de traço tão correcto,
Que deixam futurar um prodigioso artista.O nosso sangue, Poeta, esvai-se dia a dia!…
Acaso, do Centauro, a tĂșnica sombria,
â Que, fĂșnebres caudais as velas transformava âTrĂȘs vezes se tingiu com as barbas subtis
D’aqueles infernais, monstruosos, rĂ©pteis,
Que Hércules, em crença, a rir, estrangulava?Tradução de Delfim Guimarães
Sempre E Sempre
De longe ou perto, juntas, separadas,
Olhando sempre os mesmos horizontes,
Presas, unidas nossas duas fontes
GĂȘmeas, ardentes, novas, inspiradas;Vendo cair as lĂĄgrimas prateadas,
Sentindo o coro harmĂŽnico das fontes,
Sempre fitando a cĂșspide dos montes
E o rosicler das frescas alvoradas;Sempre embebendo os lĂmpidos olhares
Na claridĂŁo dos humildes luares,
No loiro sol das crenças se embebendo,Vão nossas almas brancas e floridas
Pelo futuro azul das nossas vidas,
Sempre se amando, sempre se querendo.