Sonetos sobre Unhas

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Sonetos de unhas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Por Entre O Beberibe, E O Oceano

Por entre o Beberibe, e o Oceano
Em uma areia såfia, e lagadiça
Jaz o Recife povoação mestiça,
Que o Belga edificou Ă­mpio tirano.

O Povo Ă© pouco, e muito pouco urbano,
Que vive Ă  mercĂȘ de uma lingĂŒiça,
Unha de velha insípida enfermiça,
E camarÔes de charco em todo o ano.

As damas cortesĂŁs, e por rasgadas
Olhas podridas, sĂŁo, e pestilĂȘncias,
Elas com purgaçÔes, nunca purgadas.

Mas a culpa tĂȘm vossas reverĂȘncias,
Pois as trazem rompidas, e escaladas
Com cordĂ”es, com bentinhos, e indulgĂȘncias.

Desdéns

Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz… O sĂąndalo se evolua;

O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas…
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolĂȘncia mĂłrbida, espanhola…

Como eu sou infeliz! Como Ă© sangrenta
Essa mĂŁo impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!

Essa mĂŁo de fidalga, fina e branca;
Essa mĂŁo, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!

Tenho Fome da Tua Boca

Tenho fome da tua boca, da tua voz, do teu cabelo,
e ando pelas ruas sem comer, calado,
nĂŁo me sustenta o pĂŁo, a aurora me desconcerta,
busco no dia o som líquido dos teus pés.

Estou faminto do teu riso saltitante,
das tuas mĂŁos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pĂĄlida pedra das tuas unhas,
quero comer a tua pele como uma intacta amĂȘndoa.

Quero comer o raio queimado na tua formosura,
o nariz soberano do rosto altivo,
quero comer a sombra fugaz das tuas pestanas

e faminto venho e vou farejando o crepĂșsculo
à tua procura, procurando o teu coração ardente
como um puma na solidĂŁo de Quitratue.

Doente Variação

As unhas perigosas da bronquite
Nas tuas carnes flĂĄcidas e moles,
NĂŁo deixarĂŁo que o teu amor palpite,
Nem que os olhares pela esfera roles…

É fatal a molĂ©stia — sĂł permite
Que te acabes por fim, e que te estioles,
Sem que em teu peito um coração se agite,
Sem que te animes, sem que te consoles.

Vai-se extinguindo a polpa dessas faces!
Mas se ainda hoje em mim acreditasses,
Como no tempo musical de outrora,

Me seguirias com pequeno esforço,
Das serranias através do dorso,
Pela saĂșde dos vergĂ©is afora!

O Dote que se Oferece no Horror

o dote que se oferece no horror
dessa cidade Ă© mais uma manobra difĂ­cil
das marés viradas em nossos pulsos
tal o esforço da visão da névoa

sonhos e vibraçÔes técnicas estão aí
para tudo que seja atual
em frontes douradas pois ficou vazio
o que Ă© pesado como o antigo absurdo

seu desejo excepcional ainda dentro
do medo com a mudança recente de vultos
interessados na superfĂ­cie do arrependimento

mas chegou ao fim a fĂșria da indecĂȘncia
e as unhas vistas entre os ossos podem matar
elas conhecem o que pode ser morto de novo

Amor De Mentiras

“Amor… De Mentiras…”
II
Eram brancas as mĂŁos, brancas e puras,
mĂŁos de lĂŁ, de pelĂșcia, mĂŁos amadas…
Como prever, vendo-as fazer ternuras,
que nas unhas traziam emboscadas ?

Era tĂŁo doce o olhar… em conjeturas
felizes, e em promessas impensadas…
Como enxergar, portanto, as amarguras
e as frias traiçÔes nele guardadas ?

Como pensar em duas, se somente
uma eu tinha em meus braços, e adorava,
e a outra, – uma impostora, – se mantinha ausente.

E, afinal, como ver, nessa alegria,
que o amor que tanta Vida me ofertava
seria o mesmo que me mataria ?

Para quĂȘ me Deste Ă  Vida?

Para que foi, Ăł MĂŁe, que me criaste?
Mas — antes! — para quĂȘ me deste Ă  vida?
Emendando: porquĂȘ, de espavorida,
o pescoço me não estorcegaste?

Melhor andaras, MĂŁe, pois destinaste,
assim, a tua carne a ser perdida.
Ah! Mãe! Na tua gélida jazida,
saberĂĄs que, ao seres mĂŁe, me assassinaste?

Se o sabes, no teu ventre, como cunhas,
deves cravar, em desespero, as unhas,
deves na campa estertorar aos ais.

Aqui estou, MĂŁe, agora, nestas Ăąnsias.
Aqui estou, sem estar. Rojo em distĂąncias,
sĂł e sem mim, — que Ă© um sĂł demais.