Mentiras
Ai quem me dera uma feliz mentira
que fosse uma verdade para mim!
J. DANTAS
Tu julgas que eu nĂŁo sei que tu me mentes
Quando o teu doce olhar pousa no meu?
Pois julgas que eu nĂŁo sei o que tu sentes?
Qual a imagem que alberga o peito meu?Ai, se o sei, meu amor! Em bem distingo
O bom sonho da feroz realidade…
Não palpita d´amor, um coração
Que anda vogando em ondas de saudade!Embora mintas bem, nĂŁo te acredito;
Perpassa nos teus olhos desleais
O gelo do teu peito de granito…Mas finjo-me enganada, meu encanto,
Que um engano feliz vale bem mais
Que um desengano que nos custa tanto!
Sonetos sobre Vales de Florbela Espanca
3 resultadosÓdio?
Ă“dio por Ele? NĂŁo… Se o amei tanto,
Se tanto bem lhe quis no meu passado,
Se o encontrei depois de o ter sonhado,
Se Ă vida assim roubei todo o encanto,Que importa se mentiu? E se hoje o pranto
Turva o meu triste olhar, marmorizado,
Olhar de monja, trágico, gelado
Com um soturno e enorme Campo Santo!Nunca mais o amar já é bastante!
Quero senti-lo doutra, bem distante,
Como se fora meu, calma e serena!Ă“dio seria em mim saudade infinda,
Mágoa de o ter perdido, amor ainda!
Ă“dio por Ele? NĂŁo… nĂŁo vale a pena…
MĂŁezinha
Andam em mim fantasmas, sombras, ais…
Coisas que eu sinto em mim, que eu sinto agora;
NĂ©voas de dantes, dum longĂnquo outrora;
Castelos d’oiro em mundos irreais…Gotas d’água tombando… Roseirais
A desfolhar-se em mim como quem chora…
— E um ano vale um dia ou uma hora,
Se tu me vais fugindo mais e mais!…Ă“ meu Amor, meu seio Ă© como um berço
Ondula brandamente… Brandamente…
Num ritmo escultural d’onda ou de verso!No mundo quem te vĂŞ?! Ele Ă© enorme!…
Amor, sou tua mĂŁe! Vá… docemente
Poisa a cabeça… fecha os olhos… dorme…