Passagens sobre Sussurros

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Dupla Via-Láctea

Sonhei! Sempre sonhar! No ar ondulavam
Os vultos vagos, vaporosos, lentos,
As formas alvas, os perfis nevoentos
Dos Anjos que no Espaço desfilavam.

E alas voavam de Anjos brancos, voavam
Por entre hosanas e chamejamentos…
Claros sussurros de celestes ventos
Dos Anjos longas vestes agitavam.

E tu, já livre dos terrestres lodos,
Vestida do esplendor dos astros todos,
Nas auréolas dos céus engrinaldada

Dentre as zonas de luz flamo-radiante,
Na cruz da Via-Láctea palpitante
Apareceste entĂŁo crucificada!

MĂşsica Da Hora

Habito a pausa no hábito da pauta
música de silêncios e soluços
a refrear desmandos dos impulsos
que se querem agudos sons de flauta.

A vida Ă© toda mĂşsica em seu curso
do grito original em rima incauta
ao sussurro que se ouve em cama infausta
nesse fim dissonante do percurso.

O tempo se encarrega do metrĂ´nomo
unido a dois ponteiros de um cronĂ´metro
em que o delgado veste-se de momo

para alegrar as horas do pequeno
que dança a marcha gris em chão sereno
fugindo ao dois por quatro do abandono.

Praia

De repente esse sussurro
de vozes no vento
e nĂŁo Ă© o mar que fala.

De repente essa esperança
e nĂŁo vem das pedras.

De repente o ar se enche
de vozes
e nĂŁo Ă© a noite que fala.

O mar escuta.

Sussurro

Isto é um poço. Há sempre quem nele se debruce. A água
continua a correr sem qualquer destino, e sabemos
como se afasta devagar para ser igual Ă s vestes
caĂ­das, talvez abandonadas. Assim tu podes ver
o que se confunde ali com a luz e, depois, se torna
mais nosso. Sem pressa aproximas-te agora desse espelho
vazio e sentirás que só a brisa desce até ficarmos
perto de alguns sulcos. Eles tornaram-se maiores, humedecidos.
Inclinas-te um pouco mais como se finalmente escutasses
uma confidência. Sabemos que é em vão porque ninguém se encontra
ao teu lado e já não é suficiente o sussurro da água.

A Casa Da Rua AbĂ­lio

A casa que foi minha, hoje Ă© casa de Deus.
Traz no topo uma cruz. Ali vivi com os meus,
Ali nasceu meu filho; ali, sĂł, na orfandade
Fiquei de um grande amor. Às vezes a cidade

Deixo e vou vĂŞ-la em meio aos altos muros seus.
Sai de lá uma prece, elevando-se aos céus;
SĂŁo as freiras rezando. Entre os ferros da grade,
Espreitando o interior, olha a minha saudade.

Um sussurro também, como esse, em sons dispersos,
Ouvia não há muito a casa. Eram meus versos.
De alguns talvez ainda os ecos falaram,

E em seu surto, a buscar o eternamente belo,
Misturados Ă  voz das monjas do Carmelo,
Subirão até Deus nas asas da oração.

Na Aldeia

A CristĂłvĂŁo Aires

Duas horas da tarde. Um sol ardente
Nos colmos dardejando, e nos eirados.
Sobreleva aos sussurros abafados
O grito das bigornas estridente.

A taberna Ă© vazia; mansamente
Treme o loureiro nos umbrais pintados;
Zumbem Ă  porta insectos variegados,
Envolvidos do sol na luz tremente.

Fia Ă  soleira uma velhinha: o filho
No céu mal acordou da aurora o brilho
Saiu para os cansaços da lavoura.

A nora lava na ribeira, e os netos
Ao longe correm seminus, inquietos,
No mar ondeante da seara loura.