Textos sobre Anos de SĂ©neca

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Textos de anos de SĂ©neca. Leia este e outros textos de SĂ©neca em Poetris.

Controlar a Ansiedade

Quando receamos algum mal, o prĂłprio facto de o recearmos atormenta-nos enquanto o aguardamos: teme-se vir a sofrer alguma coisa e sofre-se com o medo que se sente! Tal como nas doenças fĂ­sicas há certos sintomas que pressagiam a molĂ©stia – incapacidade de movimento, lassidĂŁo completa mesmo quando se nĂŁo faz nenhum esforço, sonolĂŞncia, calafrios por todo o corpo -, tambĂ©m um espĂ­rito dĂ©bil se sente abalado, mesmo antes de qualquer mal se abater sobre ele: como que adivinha o mal futuro, e deixa-se vencer antes do tempo. Há coisa mais insensata do que nos angustiarmos com o futuro em vez de deixarmos chegar a hora da aflição, e atrairmos sobre nĂłs todo um cĂşmulo de tormentos? Quando nĂŁo Ă© possĂ­vel livrarmo-nos por completo da angĂşstia, pelo menos adiemo-la tanto quanto pudermos. Queres ver como Ă© verdade que ninguĂ©m deve atormentar-se com o futuro?
Imagina um homem a quem tenha sido dito que depois dos cinquenta anos será submetido a graves suplícios: ele permanece imperturbável enquanto não passa a metade desse espaço de tempo, altura em que começa a aproximar-se da angústia prometida para a segunda metade da sua vida. Por um processo semelhante sucede também que certos espíritos doentes sempre em busca de motivos para sofrer se deixam tomar de tristeza por factos já remotos e esquecidos.

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A Vida em Pleno

Diariamente criticamos o destino: “Porque foi este homem arrebatado a meio da carreira? E aquele, porque nĂŁo morre, em vez de prolongar uma velhice tĂŁo penosa para ele como para os outros?” Diz-me cá, por favor: o que achas tu mais justo, seres tu a obedecer Ă  natureza ou a natureza a ti? Que diferença faz sair mais ou menos depressa de um sĂ­tio de onde temos mesmo de sair? NĂŁo nos devemos preocupar em viver muito, mas sim em viver plenamente; viver muito depende do destino, viver plenamente, da nossa prĂłpria alma. Uma vida plena Ă© longa quanto basta; e será plena se a alma se apropria do bem que lhe Ă© prĂłprio e se apenas a si reconhece poder sobre si mesma. Que interessa os oitenta anos daquele homem passados na inacção? Ele nĂŁo viveu, demorou-se nesta vida; nĂŁo morreu tarde, levou foi muito tempo a morrer! “Viveu oitenta anos!”. O que importa Ă© ver a partir de que data ele começou a morrer. “Mas aquele outro morreu na força da vida”. É certo, mas cumpriu os deveres de um bom cidadĂŁo, de um bom amigo, de um bom filho, sem descurar o mĂ­nimo pormenor; embora o seu tempo de vida ficasse incompleto,

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O Valor do Tempo

Fico sempre surpreendido quando vejo algumas pessoas a exigir o tempo dos outros e a conseguir uma resposta tĂŁo servil. Ambos os lados tĂŞm em vista a razĂŁo pela qual o tempo Ă© solicitado e nenhum encara o tempo em si – como se nada estivesse a ser pedido e nada a ser dado. EstĂŁo a esbanjar o mais precioso bem da vida, sendo enganados por ser uma coisa intangĂ­vel, nĂŁo aberta Ă  inspecção, e, portanto, considerada muito barata – de facto, quase sem qualquer valor. As pessoas ficam encantadas por aceitar pensões e favores, pelos quais empenham o seu labor, apoio ou serviços. Mas ninguĂ©m percebe o valor do tempo; os homens usam-no descontraidamente como se nada custasse.
Mas se a morte ameaça estas mesmas pessoas, vê-las-ás a recorrer aos seus médicos; se estiverem com medo do castigo capital, vê-las-ás preparadas para gastarem tudo o que têm para se manterem vivas. Tão inconsistentes são nos seus sentimentos! Mas se cada um de nós pudesse ter um vislumbre dos seus anos futuros, como podemos fazer em relação aos anos passados, como ficariam alarmados os que só podem ver com alguns anos de antecedência e como seriam cuidadosos a utilizá-los!

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A Felicidade nĂŁo Tem Medida

NĂŁo duvidas de que a vida feliz seja o supremo bem; logo, se a vida possui o supremo bem, entĂŁo Ă© sumamente feliz. E tal como o supremo bem nĂŁo pode receber qualquer acrĂ©scimo (o que haveria acima do supremo?!), tambĂ©m a vida feliz o nĂŁo pode, pois a felicidade nĂŁo existe sem o supremo bem. Repara: se disseres que alguĂ©m Ă© “mais” feliz, tornarás possĂ­vel que se diga tambĂ©m “muito mais”; e assim irás fazendo inĂşmeras gradações no supremo bem, quando por “sumo bem” eu entendo tudo o que nĂŁo tem valor algum acima de si. Se alguĂ©m Ă© menos feliz do que um outro, segue-se que preferirá a vida desse outro (por ser mais feliz) Ă  sua prĂłpria; ora, um homem feliz nĂŁo considera nada preferĂ­vel Ă  sua vida.
Qualquer destas duas situações é inaceitável: existir algo que o homem feliz preferiria ter em lugar daquilo que tem, ou não preferir ter algo que seja melhor do que aquilo que tem. De facto, quanto mais um homem é avisado, tanto mais se procurará chegar ao que há de melhor, e ambicionará alcançá-lo seja de que modo for. Ora, como pode ser feliz alguém que pode, que deve mesmo,

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