Textos sobre Calma de Fernando Pessoa

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Textos de calma de Fernando Pessoa. Leia este e outros textos de Fernando Pessoa em Poetris.

O Mal em Mim

NĂŁo sou capaz de explicar a sensação do mal em mim; representava, nesse perĂ­odo da minha vida de que falo, a fonte de uma angĂșstia inexprimĂ­vel. Os homens constroem teorias estranhas sobre o bem e o mal, sobre os castigos e as recompensas; procuram assim a verdade que nunca em vida poderĂŁo saber.
Foi muito bom para mim e para a minha família o facto de eu ter sempre ficado em casa e conservado sem esforço o meu antigo modo de ser calmo até aos quinze anos. Nessa altura, porém, mandaram-me para uma escola longe da minha casa, onde o ser latente em mim que tanto temia despertou e começou a agir e a insinuar-se na vida humana.
Quando digo que sentia haver muito mal dentro de mim, nĂŁo quero dizer que estivesse desde sempre condenado a uma vida de infĂąmia ou de vĂ­cio. Quero dizer, porĂ©m, isto — que havia em mim uma forte atracção por todas as coisas censurĂĄveis que assediam o homem: podia controlar ou podia satisfazer esta atracção, mas uma vez satisfeita, mesmo sĂł um pouco, era provĂĄvel que eu nunca mais me pudesse controlar. Resolvi satisfazer essa atracção, e a partir desse momento,

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Hoje Tomei a DecisĂŁo de Ser Eu

Hoje, ao tomar de vez a decisĂŁo de ser Eu, de viver Ă  altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacĂŁo de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressĂ”es pelos outros, na posse plena do meu GĂ©nio e na divina consciĂȘncia da minha MissĂŁo. Hoje sĂł me quero tal qual meu carĂĄcter nato quer que eu seja; e meu GĂ©nio, com ele nascido, me impĂ”e que eu nĂŁo deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios Ă  plebe, nada de girĂąndolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade nĂŁo se mascara de palhaço; Ă© de renĂșncia e de silĂȘncio que se veste.
O Ășltimo rasto de influĂȘncia dos outros no meu carĂĄcter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.