A MissĂŁo de Continuar a Vida
NinguĂ©m se pode possuir inteiramente, porque se ignora, porque somos um mistĂ©rio. Para nĂłs mesmos. Podemos sim, ser mais conscientes de uma determinada missĂŁo que temos no mundo. Todos nĂłs somos uma missĂŁo. Somos a missĂŁo de continuar a vida, aperfeiçoando-a, festejando-a e nĂŁo destruindo-a como se está a fazer hoje. Eu nĂŁo tenho certezas, mas tenho convicções e uma das minhas convicções mais firmes Ă© que nascemos para a liberdade. E, no entanto, veja o paradoxo: essa liberdade, esse caminho para a liberdade está a ser cada vez mais obscurecido por aquilo que observamos no nosso mundo de hoje. NĂłs chegamos a esta coisa terrĂvel, o chamado equilĂbrio nuclear, que Ă© o jogo de escondidas de duas disponibilidades criminosas para suprimir a humanidade. A humanidade está hoje pronta (parece que está sempre pronta!) para pĂ´r luto por si prĂłpria. Isto nĂŁo Ă© uma forma humana de viver. Esta tragĂ©dia tem que ser a sua «hĂşbris», que Ă©, digamos, a arrogância que desencadeia a catástrofe punitiva. E o que me perturba muito, o que me assusta, Ă© que paĂses que subscrevem, que proclamam os direitos humanos, possam entrar num jogo fatal destes, um jogo que se destina a suprimir o homem.
Textos sobre Caminhos de Natália Correia
2 resultadosEstamos a Cair na Mediocridade Governativa
Estamos a cair na mediocridade porque estamos muito subservientes aos padrões de eficácia e da racionalidade europeia. Os tempos festivos da revolução passaram. Teriam naturalmente que passar, mas aplica-se a terapĂŞutica da racionalização tecnocrática e isso mata o sonho. Devia haver outras vias. Vias apropriadas Ă quilo que somos. NĂŁo somos um PaĂs de grandes voos capitalistas. Se o quisermos ser caĂmos, inexoravelmente, nas garras do monopolismo. Portanto, devĂamos cultivar as pequenas e mĂ©dias empresas. Esta devia ser a lĂłgica da economia portuguesa. Devia dar-se grande valor Ă s pequenas e mĂ©dias empresas e realmente deixarmo-nos de ambições que nos alcem aos grandes padrões europeus.
(…) Os (partidos polĂticos tĂŞm) os mesmos defeitos e algumas qualidades em comum. Evidentemente que os partidos sĂŁo um defeito necessário, porque dividem, mas Ă© uma divisĂŁo necessária para agrupar, para reunir a ideia da democracia parlamentar que temos. Agora, o erro das pessoas Ă© adorná-los com mĂ©ritos extraordinários, porque isso faz-nos cair numa partidolatria, imprĂłpria de espĂritos livres! NĂŁo penso que a nossa classe polĂtica seja pior do que a classe polĂtica de outros paĂses. Ponhamos as coisas neste pĂ©: as minhas exigĂŞncias estĂ©ticas e Ă©ticas nĂŁo tornam muito fáceis as minhas relações com a classe polĂtica.