Textos sobre Cegueira de Friedrich Nietzsche

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Textos de cegueira de Friedrich Nietzsche. Leia este e outros textos de Friedrich Nietzsche em Poetris.

A Segunda Juventude

Nos anos da juventude venera-se ou despreza-se ainda sem aquela arte da nuance que é o melhor partido da vida e paga-se, com justiça, muito caro o ter assaltado deste modo as coisas e as pessoas com sim e não. Tudo se predispõe de modo que o pior de todos os gostos, o gosto do absoluto, seja cruelmente achicalhado e abusado, até que o homem aprenda a pôr um pouco de arte nos seus sentimentos e prefira ousar fazer uma tentativa com o artificial: tal como o fazem os verdadeiros artistas da vida. A tendência para a cólera e o instinto da veneração, próprios da juventude, parecem não descansar enquanto não tiverem falseado homens e coisas para os poder dominar: – a juventude, já de si, é algo que engana e falseia.

Mais tarde, quando a alma jovem, martirizada por mil desilusões, se volta por fim, desconfiada, contra si mesma, ardente e selvagem ainda, mesmo nas suas suspeitas e remorsos: como se encoleriza consigo mesmo, como se dilacera com impaciência, como se vinga da sua longa cegueira, como se ela tivesse sido voluntária! Neste período de transição autocastiga-se pela desconfiança para com os seus próprios sentimentos; martiriza-se o entusiasmo pela dúvida;

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A Cautela dos Espíritos Livres

Os homens de espírito livre, que vivem só para o conhecimento, em breve acharão ter alcançado a sua definitiva posição relativamente à sociedade e ao Estado e, por exemplo, dar-se-ão de bom grado por satisfeitos com um pequeno emprego ou com uma fortuna que chega à justa para viver; pois arranjar-se-ão para viver de maneira que uma grande transformação dos bens materiais, até mesmo um derrube da ordem política, não deite também abaixo a sua vida. Em todas essas coisas eles gastam a menor energia possível, de modo a poderem imergir, com todas as forças reunidas e, por assim dizer, com um grande fôlego, no elemento do conhecimento. Podem, assim, ter esperança de mergulhar profundamente e também de, talvez, verem bem até ao fundo.
De um dado acontecimento, um tal espírito pegará de bom grado só numa ponta: ele não gosta das coisas em toda a sua amplitude e superabundância das suas pregas, pois não se quer emaranhar nelas. Também ele conhece os dias de semana da falta de liberdade, da dependência, da servidão. Mas, de tempos a tempos, tem de lhe aparecer um domingo de liberdade, senão ele não suportará a vida. É provável que mesmo o seu amor pelos seres humanos seja cauteloso e com pouco fôlego,

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