Textos sobre Comunidade de José Saramago

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Textos de comunidade de José Saramago. Leia este e outros textos de José Saramago em Poetris.

NĂŁo Calar

HĂĄ uma regra fundamental quando se vive como nĂłs estamos a viver – em sociedade, porque somos uns animais gregĂĄrios – que Ă© simplesmente nĂŁo calar. NĂŁo calar! Que isso possa custar em comunidades vĂĄrias a perda de emprego ou mĂĄs interpretaçÔes jĂĄ o sabemos, mas tambĂ©m nĂŁo estamos aqui para agradar a toda a gente. Primeiro, porque Ă© impossĂ­vel, e segundo, porque se a consciĂȘncia nos diz que o caminho Ă© este entĂŁo sigamo-lo e quanto Ă s consequĂȘncias logo veremos.

Produzimos uma Cultura de Devastação

Todos os anos exterminamos comunidades indĂ­genas, milhares de hectares de florestas e atĂ© inĂșmeras palavras das nossas lĂ­nguas. A cada minuto extinguimos uma espĂ©cie de aves e alguĂ©m em algum lugar recĂŽndito contempla pela Ășltima vez na Terra uma determinada flor. Konrad Lorenz nĂŁo se enganou ao dizer que somos o elo perdido entre o macaco e o ser humano. Somos isso, uma espĂ©cie que gira sem encontrar o seu horizonte, um projecto por concluir. Falou-se bastante ultimamente do genoma e, ao que parece, a Ășnica coisa que nos distancia na realidade dos animais Ă© a nossa capacidade de esperança. Produzimos uma cultura de devastação baseada muitas vezes no engano da superioridade das raças, dos deuses, e sustentada pela desumanidade do poder econĂłmico. Sempre me pareceu incrĂ­vel que uma sociedade tĂŁo pragmĂĄtica como a ocidental tenha deificado coisas abstractas como esse papel chamado dinheiro e uma cadeia de imagens efĂ©meras. Devemos fortalecer, como tantas vezes disse, a tribo da sensibilidade…