Textos sobre Conhecidos de Natália Correia

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Textos de conhecidos de Natália Correia. Leia este e outros textos de Natália Correia em Poetris.

A Cultura Portuguesa e o Provincianismo

A cultura portuguesa tem um amor fatal pelo provincianismo. O provincianismo é a forma mais «engagée» de existir socialmente e literariamente. Daí a impossibilidade, ou melhor, o medo de se realizar sequer um realismo a sério, porquanto este exige uma descida ao inferno e não vejo por aí quem se atreva além do purgatório. Fica-se assim na meia tinta do naturalismo, retratando quadros convencionais de uma sociedade provinciana onde, além da já muito conhecida injustiça social (reparável pela economia e não pela literatura), nada se capta que possa sugerir a simples violência de se estar no mundo. Provincianismo chama-se ainda àquela nossa atitude que toma muito a sério ou, ainda, solenemente, tudo o que faz, tornando inviável uma literatura que desmonte eficazmente a engrenagem humana e social pela incomplacente investida de um humor cruel. Houve recentes tentativas queirozianas para denunciar as fraquezas do meio. Conseguiu-se fazer realismo desta vez? Também não, porque se fez realismo de empréstimo, de segunda mão, colhido no «diz-se diz-se» das esquinas. Escreveu-se razoavelmente má-língua, mas não se agitaram as pessoas e as instituições de forma a tornar visível o lodo depositado no fundo. Isto quanto aos que fazem profissão de fé de realismo social ou burguês.

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As Personagens dos Meus Livros

Claro que vivo com as personagens dos meus livros, embora as não conheça. Nenhuma delas se encaixa, inteiramente, em pessoas que conheci. É verdade que, numa ou noutra pessoa que tenha conhecido, colhi e observei coisas naturalmente reflectidas em personagens do livro. Mas tal não acontece imediatamente, quer dizer, não as torna identificáveis com as pessoas que andam por aí. Quem afirmar o contrário dá-me uma grande novidade. E se alguém se reconhece nelas tenho de atribuir tal facto a um exacerbado narcisismo, que me dá vontade de rir. Não, não sou contra nem a favor dos narcisistas. Só que me parece que o narcisismo não leva a grandes consequências…