Passagens sobre ViolĂȘncia

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Frases sobre violĂȘncia, poemas sobre violĂȘncia e outras passagens sobre violĂȘncia para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

Ode Triunfal

À dolorosa luz das grandes lĂąmpadas elĂ©ctricas da fĂĄbrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.

Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fĂșria!
Em fĂșria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lĂĄbios secos, Ăł grandes ruĂ­dos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso
De expressão de todas as minhas sensaçÔes,
Com um excesso contemporĂąneo de vĂłs, Ăł mĂĄquinas!

Em febre e olhando os motores como a uma Natureza tropical –
Grandes trĂłpicos humanos de ferro e fogo e força –
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente Ă© todo o passado e todo o futuro
E hå Platão e Virgílio dentro das måquinas e das luzes eléctricas
SĂł porque houve outrora e foram humanos VirgĂ­lio e PlatĂŁo,
E pedaços do Alexandre Magno do século talvez cinquenta,

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O Encanto da Vida

Todas as noites acordado atĂ© desoras, Ă  espera da Ășltima cena de pancadaria num jogo de futebol, do Ășltimo insulto num debate parlamentar, do Ășltimo discurso demagĂłgico num comĂ­cio eleitoral, da Ășltima pirueta dum cabotino entrevistado, da Ășltima farsa no palco internacional. CrucificaçÔes masoquistas, que a prudĂȘncia desaconselha e a imprudĂȘncia impĂ”e. Vou deste mundo farto de o conhecer e faminto de o descobrir.

Mas nĂŁo hĂĄ perspicĂĄcia, nem constĂąncia de atenção capazes de lhe prefigurar os imprevistos. O que acontece hoje excede sempre o que sucedeu ontem. A violĂȘncia, o facciosismo, a ambição de poder, a crueldade e o exibicionismo nĂŁo tĂȘm limites. Felizmente que a abnegação, a generosidade e o altruĂ­smo tambĂ©m nĂŁo. E o encanto da vida Ă© precisamente esse: nenhum excesso nela ser previsĂ­vel. Nem no mal nem no bem. E nĂŁo me canso de o verificar, de surpresa em surpresa, Ă  luz dos acontecimentos.

Quando julgo que estou devidamente informado sobre o amor, sobre o Ăłdio, sobre a santidade, sobre a perfĂ­dia, sobre as virtudes e os defeitos humanos, acabo por concluir que soletro ainda o ĂĄ-bĂȘ-cĂȘ da realidade. Cabeçudo como sou, teimo na aprendizagem. Hoje fizeram-me a revelação surpreendente de que um avarento meu conhecido,

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XIV

Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondĂȘncia,
Ou desconhece o rosto da violĂȘncia,
Ou do retiro a paz nĂŁo tem provado.

Que bem Ă© ver nos campos transladado
No gĂȘnio do pastor, o da inocĂȘncia!
E que mal Ă© no trato, e na aparĂȘncia
Ver sempre o cortesĂŁo dissimulado!

Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um sĂł trata a mentira, outro a verdade.

Ali não hå fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, Ă© variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!

Virtude Representa Muito Mais que Bondade

Parece-me que a virtude Ă© coisa diferente e mais nobre do que as inclinaçÔes para a bondade que nascem em nĂłs. As almas bem ajustadas por si mesmas e bem nascidas seguem o mesmo andamento e apresentam nas suas açÔes a mesma aparĂȘncia que as virtuosas. PorĂ©m a virtude significa nĂŁo sei quĂȘ de maior e mais activo do que, por uma Ă­ndole favorecida, deixar-se conduzir docemente e tranquilamente na esteira da razĂŁo. Aquele que com uma doçura e complacĂȘncia naturais menosprezasse as ofensas recebidas faria coisa mui bela e digna de louvor; mas aquele que, espicaçado e ultrajado atĂ© o Ăąmago por uma ofensa, se armasse com as armas da razĂŁo contra o furio­so apetite de vingança e apĂłs um grande conflito finalmen­te o dominasse, sem a menor dĂșvida seria muito mais. Aquele agiria bem, e este virtuosamente: uma acção poder-­se-ia dizer bondade; a outra, virtude, pois parece que o nome de virtude pressupĂ”e dificuldade e oposição, e que ela nĂŁo pode se exercer sem combate. Talvez seja por isso que chamamos Deus de bom, forte e liberal, e justo; mas nĂŁo O chamamos de virtuoso: Os Seus actos sĂŁo todos natu­rais e sem esforço.
Metelo, o Ășnico de todos os senadores romanos a se ter proposto,

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O Amor-PrĂłprio como Fonte de Todos os Males

É preciso nĂŁo confundir o amor-prĂłprio e o amor de si mesmo, duas paixĂ”es muito diferentes pela sua natureza e pelos seus efeitos. O amor de si mesmo Ă© um sentimento natural que leva todo o animal a velar pela sua prĂłpria conservação, e que, dirigido no homem pela razĂŁo e modificado pela piedade, produz a humanidade e a virtude. O amor-prĂłprio Ă© apenas um sentimento relativo, factĂ­cio e nascido na sociedade, que leva cada indivĂ­duo a fazer mais caso de si do que de qualquer outro, que inspira aos homens todos os males que se fazem mutuamente, e que Ă© a verdadeira fonte da honra.
Bem entendido isso, repito que, no nosso estado primitivo, no verdadeiro estado de natureza, o amor-prĂłprio nĂŁo existe; porque, cada homem em particular olhando a si mesmo como o Ășnico espectador que o observa, como o Ășnico ser no universo que toma interesse por ele, como o Ășnico juiz do seu prĂłprio mĂ©rito, nĂŁo Ă© possĂ­vel que um sentimento que teve origem em comparaçÔes que ele nĂŁo Ă© capaz de fazer possa germinar na sua alma.
Pela mesma razão, esse homem não poderia ter ódio nem desejo de vingança, paixÔes que só podem nascer da opinião de alguma ofensa recebida.

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Esquecer os deveres bĂĄsicos de solidariedade Ă© uma violĂȘncia, uma cobardia escondida em nome do bom-senso.

TĂŁo Grande Dor

“TĂŁo grande dor para tĂŁo pequeno povo” palavras de um timorense Ă  RTP
Timor fragilĂ­ssimo e distante
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

“SĂąndalo flor bĂșfalo montanha
Cantos danças ritos
E a pureza dos gestos ancestrais”

Em frente ao pasmo atento das crianças
Assim contava o poeta Rui Cinatti
Sentado no chĂŁo
Naquela noite em que voltara da viagem

Timor
Dever que nĂŁo foi cumprido e que por isso dĂłi

Depois vieram notĂ­cias desgarradas
Raras e confusas
ViolĂȘncias mortes crueldade
E anos apĂłs ano
Ia crescendo sempre a atrocidade
E dia a dia – espanto prodĂ­gio assombro –
Cresceu a valentia
Do povo e da guerrilha
Evanescente nas brumas da montanha

Timor cercado por um bruto silĂȘncio
Mais pesado e mais espesso do que o muro
De Berlim que foi sempre falado
Porque nĂŁo era um muro mas um cerco
Que por segundo cerco era cercado

O cerco da surdez dos consumistas
TĂŁo cheios de jornais e de notĂ­cias

Mas como se fosse o milagre pedido
Pelo rio da prece ao som das balas
As imagens do massacre foram salvas
As imagens romperam os cercos do silĂȘncio
Irromperam nos Ă©crans e os surdos viram
A evidĂȘncia nua das imagens

De Longe Te Hei-de Amar

De longe te hei-de amar
– da tranquila distĂąncia
em que o amor Ă© saudade
e o desejo, constĂąncia.

Do divino lugar
onde o bem da existĂȘncia
Ă© ser eternidade
e parecer ausĂȘncia.

Quem precisa explicar
o momento e a fragrĂąncia
da Rosa, que persuade
sem nenhuma arrogĂąncia?

E, no fundo do mar,
a Estrela, sem violĂȘncia,
cumpre a sua verdade,
alheia Ă  transparĂȘncia.

Os Doentes SĂŁo o Maior Perigo da Humanidade

Se tĂŁo normal Ă© o homem em estado morboso, tanto mais de devem estimar os raros exemplos de potĂȘncia fĂ­sica e corpural, os acidentes felizes da espĂ©cie humana, e tanto mais devem ser preservados do ar infecto os seres robustos. Faz-se assim ?…
Os doentes sĂŁo o maior perigo para os sĂŁos; daqueles vĂȘm todos os males. JĂĄ se reparou suficientemente nisto?… Decerto se nĂŁo deve desejar que diminua a violĂȘncia entre os homens; porque esta violĂȘncia obriga os homens a serem fortes, e mantĂ©m na sua integridade o tipo do homem robusto. O temĂ­vel e desastroso Ă© o grande tĂ©dio do homem e a sua grande compaixĂŁo. Se algum dia estes elementos se unirem, darĂŁo ĂĄ luz irremissivelmente a monstruosa «Ășltima» vontade, a sua vontade do nada, o niilismo.
E efectivamente tudo estĂĄ jĂĄ preparado para este fim. Os que tĂȘm olhos, ouvidos, nariz, percebem por todos os lados a atmosfera de um manicĂłmio e de um hospital, em todas as partes do mundo civilizado, europeizado. Os doentes sĂŁo o maior perigo da humanidade; nĂŁo os maus, nĂŁo as «feras de rapina». Os desgraçados, os vencidos, os impotentes, os fracos sĂŁo os que minam a vida e envenenam e destroem a nossa confiança.

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Dizemos bom aquele que nĂŁo pratica a violĂȘncia contra si prĂłprio, mas tambĂ©m dizemos bom o herĂłi, que triunfa de si mesmo.

VĂ­timas e Vencidos

A ilusĂŁo constante da Revolução estĂĄ em acreditar que as vĂ­timas da força, estando inocentes das violĂȘncias que se exercem, se lhes colocĂĄssemos na mĂŁo a força, a manuseariam com justiça. Mas Ă  excepção das almas que estĂŁo bastante prĂłximas da santidade, as vĂ­timas sĂŁo maculadas pela força como os carrascos. O mal que se encontra no punho da espada Ă© transmitido para a ponta. E as vĂ­timas, chegadas assim a este ponto e inebriadas pela mudança, fazem tanto mal ou mais ainda, e de imediato reincidem.
(…) O socialismo consiste em atribuir o bem aos vencidos, e o racismo aos vencedores. Mas a asa revolucionĂĄria do socialismo serve-se daqueles que, ainda nascidos em baixo, sĂŁo por natureza e por vocação vencedores, e assim conduz Ă  mesma Ă©tica.

O EgoĂ­sta Homem Moderno

Um dos problemas mais complicados e mais difĂ­ceis dos nossos dias, o de encaminhar para um fim benĂ©fico e utilitĂĄrio, para o bem real da nossa sociedade, essa exuberĂąncia espantosa de prosperidade material, que muito Ă© de temer nĂŁo materialize excessivamente o espĂ­rito popular e nĂŁo o lance na via de uma ambição desenfreada e subversiva. Esta questĂŁo considero-a como a Ășnica sĂ©ria e vital que hoje resta resolver satisfatoriamente, porque a sua resolução Ă© que hĂĄ-de dizer a razĂŁo por que nĂłs gozamos dos incalculĂĄveis benefĂ­cios do vapor e das suas aplicaçÔes e do telĂ©grafo elĂ©ctrico; porque Ă© dela que depende a sorte futura da nossa sociedade, e essa resolução Ă© tanto mais difĂ­cil que ela nĂŁo pode ser a obra da violĂȘncia, por isso que a violĂȘncia apressaria o termo fatal do desengano sem que a sociedade estivesse suficientemente preparada para um choque tĂŁo violento, e tornaria sangĂŒinĂĄria uma revolução que, longe de dever ser um cataclismo para a sociedade, deverĂĄ executar-se brandamente. O governo, que deve saber dirigir a verdadeira opiniĂŁo pĂșblica, pode pela sua acção sobre a instrução das classes laboriosas ensinar-lhes a sua posição futura na sociedade e destruir as ambiçÔes desenfreadas dos pretendidos amigos do povo…

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Devo-te

Devo-te tanto como um pĂĄssaro
deve o seu voo Ă  lavada
planície do céu.

Devo-te a forma
novĂ­ssima de olhar
teu corpo onde Ă s vezes
desce o pudor o silĂȘncio
de uma pĂĄlpebra mais nada.

Devo-te o ritmo
de peixe na palavra,
a genesĂ­aca, doce
violĂȘncia dos sentidos;
esta tinta de sol
sobre o papel de silĂȘncio
das coisas – estes versos
doces, curtos, de abelhas
transportando o pĂłlen
levĂ­ssimo do dia;
estas formigas na sombra
da prĂłpria pressa e entrando
todas em fila no tempo:
com uma pergunta frĂĄgil
nas antenas, um recado invisĂ­vel, o peso
que as deixa ser e esquece;
e a tua voz que compunha
uma casa, uma rosa
a toda a volta – Ăł meu amor vieste
rasgar um sol das minhas mĂŁos!