A Chama da Vida e o Fogo das PaixÔes

Nem sempre estar apaixonado é bom. A maior parte das paixÔes tomam conta da vontade e assumem o controlo do sentir e do pensar. Prometem a maior das libertaçÔes, mas escravizam quem desiste de si mesmo e a elas se submete.

A paixĂŁo Ă© sofrimento, um furor que Ă© o oposto da paz e do contentamento. Um vazio fulminante capaz das maiores acrobacias para se satisfazer. Mas que, como nunca se sacia, acaba por se consumir, por se destruir a si mesmo. Para ter paz precisamos de fazer esta guerra, na conquista do mais exigente de todos os equilĂ­brios: entre a monotonia de nada arriscar e a imprudĂȘncia de entregar tudo sem uma vontade prĂłpria profunda. É essencial que saibamos desafiarmo-nos, por vezes, a um profundo desequilĂ­brio momentĂąneo. Afinal, quem nunca ousa estĂĄ perdido, para sempre.
Hå boas paixÔes. São as que trabalham como um fermento. De forma pacata, pacífica e paciente. Animam, mas não dominam. Orientam, mas não decidem. Iluminam, mas não cegam.

Quase ninguĂ©m faz ideia da capacidade que cada um de nĂłs tem para suportar e vencer grandes sofrimentos…

Por paixĂ”es comuns, hĂĄ quem perca a cabeça, o coração e a alma. Uma paixĂŁo forte que se consente pode fazer com que a mais digna das pessoas se destrua… se consuma, nĂŁo ficando senĂŁo as cinzas em que ardeu. É preciso que saibamos cuidar do que queremos ser, mais do que do prazer que julgamos merecer. O nosso caminho deve ser decidido por nĂłs, nĂŁo por um qualquer impulso estranho Ă  nossa vontade. Ser feliz passa por ser firme face Ă s tentaçÔes do fĂĄcil e do imediato.

A verdadeira chama, aquela que nos ilumina, aquece e orienta, nĂŁo Ă© a das paixĂ”es, Ă© a chama da vida. A vida ela prĂłpria, assim, simples e pobre na aparĂȘncia. Aquela vida que tem consciĂȘncia de que Ă©, em si mesma, um dom. Uma luz. Um presente do divino. Uma presença divina. NĂŁo se trata de uma alegria de cumprir fantasias, antes sim da virtude suprema de saber apreciar os momentos da vida sem necessidade de ser sob a sĂ©ria ameaça de a perder. Este Ă© o Ășnico fogo que nĂŁo consome.

O frio que por vezes sentimos na alma não é sinal de estarmos no caminho errado, apenas de que é hora de por à prova a nossa determinação.
A paixĂŁo aumenta a sua força Ă  medida que crescem os obstĂĄculos que se lhe opĂ”em. Combate-se com a luz da razĂŁo e o calor do coração. Sem excessos nem violĂȘncias. Apenas firmeza, sofrimento e paz.

Posso sofrer, mas não quero desistir de mim mesmo
 assim eu me saiba fazer maior do que as minhas dores. Mais forte do que as minhas paixÔes.