Passagens sobre ImprudĂȘncia

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Frases sobre imprudĂȘncia, poemas sobre imprudĂȘncia e outras passagens sobre imprudĂȘncia para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

O Encanto da Vida

Todas as noites acordado atĂ© desoras, Ă  espera da Ășltima cena de pancadaria num jogo de futebol, do Ășltimo insulto num debate parlamentar, do Ășltimo discurso demagĂłgico num comĂ­cio eleitoral, da Ășltima pirueta dum cabotino entrevistado, da Ășltima farsa no palco internacional. CrucificaçÔes masoquistas, que a prudĂȘncia desaconselha e a imprudĂȘncia impĂ”e. Vou deste mundo farto de o conhecer e faminto de o descobrir.

Mas nĂŁo hĂĄ perspicĂĄcia, nem constĂąncia de atenção capazes de lhe prefigurar os imprevistos. O que acontece hoje excede sempre o que sucedeu ontem. A violĂȘncia, o facciosismo, a ambição de poder, a crueldade e o exibicionismo nĂŁo tĂȘm limites. Felizmente que a abnegação, a generosidade e o altruĂ­smo tambĂ©m nĂŁo. E o encanto da vida Ă© precisamente esse: nenhum excesso nela ser previsĂ­vel. Nem no mal nem no bem. E nĂŁo me canso de o verificar, de surpresa em surpresa, Ă  luz dos acontecimentos.

Quando julgo que estou devidamente informado sobre o amor, sobre o Ăłdio, sobre a santidade, sobre a perfĂ­dia, sobre as virtudes e os defeitos humanos, acabo por concluir que soletro ainda o ĂĄ-bĂȘ-cĂȘ da realidade. Cabeçudo como sou, teimo na aprendizagem. Hoje fizeram-me a revelação surpreendente de que um avarento meu conhecido,

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A IlusĂŁo da ConsistĂȘncia da Obra do Escritor

O homem nĂŁo Ă© permanentemente igual a si mesmo. A velha concepção dos carĂĄcteres rectilĂ­neos e das mentalidades cristalizadas em sistemas imutĂĄveis abriu falĂȘncia. Tudo muda, no espaço e no tempo. Para um organismo vivo, existir – mesmo no ponto de vista somĂĄtico – Ă© transformar-se. Quando começamos cedo e envelhecemos na actividade das letras, nĂŁo hĂĄ um nĂłs apenas um escritor; hĂĄ, ou houve, escritores sucessivos, mĂșltiplos e diversos, representando estados de evolução da mesma mentalidade incessantemente renovada. Ao chegar a altura da vida em que a estabilização se opera, olhamos para trĂĄs, e muitas das nossas prĂłprias obras parecem-nos escritas por um estranho, tĂŁo longe se encontram jĂĄ, nĂŁo apenas dos nossos processos literĂĄrios, mas do nosso espĂ­rito, das nossas tendĂȘncias, da nossa orientação, dos nossos pontos de vista Ă©ticos e estĂ©ticos.
Nesse exame retrospectivo, por vezes doloroso, se de algumas coisas temos de louvar-nos – obras a que a nossa mocidade comunicou a chama viva do entusiasmo e da paixĂŁo -, de outras somos forçados a reconhecer a pobreza da concepção, os vĂ­cios da linguagem, as carĂȘncias da tĂ©cnica, e tantas vezes (poenitet me!) as audĂĄcias, as incoerĂȘncias, as injustiças, as demasias, a licença de certas pinturas de costumes e o erro de certas atitudes morais.

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A Fragilidade dos Valores

Todas as coisas «boas» foram noutro tempo mĂĄs; todo o pecado original veio a ser virtude original. O casamento, por exemplo, era tido como um atentado contra a sociedade e pagava-se uma multa, por ter tido a imprudĂȘncia de se apropriar de uma mulher (ainda hoje no Cambodja o sacerdote, guarda dos velhos costumes, conserva o jus primae noctis). Os sentimentos doces, benĂ©volos, conciliadores, compassivos, mais tarde vieram a ser os «valores por excelĂȘncia»; por muito tempo se atraiu o desprezo e se envergonhava cada qual da brandura, como agora da dureza.
A submissĂŁo ao direito: oh! que revolução de consciĂȘncia em todas as raças aristocrĂĄticas quando tiveram de renunciar Ă  vingança para se submeterem ao direito! O «direito» foi por muito tempo um vetitum, uma inovação, um crime; foi instituĂ­do com violĂȘncia e oprĂłbio.
Cada passo que o homem deu sobre a Terra custou-lhe muitos suplícios intelectuais e corporais; tudo passou adiante e atrasou todo o movimento, em troca teve inumeråveis mårtires; por estranho que isto hoje nos pareça, jå o demonstrei na Aurora, aforismo 18: «Nada custou mais caro do que esta migalha de razão e de liberdade, que hoje nos envaidece». Esta mesma vaidade nos impede de considerar os períodos imensos da «moralização dos costumes» que precederam a história capital e foram a verdadeira história,

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Riqueza Ilimitada mas Mortal

Eu nĂŁo posso, pensando bem, descobrir como Ă© possĂ­vel a nĂłs, que demos tanta importĂąncia Ă  riqueza ilimitada e que, para falar a verdade, a divinizamos, nĂŁo admitir nas nossas almas os males que crescem com ela. Acompanha, com efeito, a riqueza sem medida e sem coração, ligada a ela, e como se diz marchando no mesmo passo, a prodigalidade, e Ă  medida que a riqueza abre o acesso Ă s cidades e Ă s casas ela entra junto e coabita. Depois, com o tempo, segundo os sĂĄbios, esses seres fazem os seus ninhos nas vidas humanas e rapidamente engendram outros seres, no momento da procriação, como a cupidez, o orgulho e a luxĂșria, que nĂŁo sĂŁo seus bastardos mas filhos legĂ­timos.
Mas se permitir que esses filhos da riqueza avancem na idade, logo para as almas eles engendrarĂŁo tiranos inexorĂĄveis, a violĂȘncia, a ilegalidade e a imprudĂȘncia. Pois Ă© assim necessariamente; os homens nĂŁo olham mais para o alto e nĂŁo dĂŁo importĂąncia ao renome na posteridade, mas a destruição das vidas (dos homens) completa-se pouco a pouco num tal ciclo e a grandeza das almas fenece, enfraquece e nĂŁo Ă© mais assunto de emulação, quando se reserva a sua admiração Ă s partes mortais de si mesmo,

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A Acção Vai Bem sem a Paixão

Fazemos coisas iguais com forças diversas e diferente esforço de vontade. A acção vai bem sem a paixĂŁo. Pois quantas pessoas se arriscam diariamente em guerras que nĂŁo lhes importam, e se sujeitam aos perigos de batalhas cuja perda nĂŁo lhes perturbarĂĄ o prĂłximo sono? Um homem na sua casa, longe desse perigo que nĂŁo teria ousado encarar, estĂĄ mais interessado no desfecho dessa guerra e tem a alma mais inquieta do que o soldado que pĂ”e nela o seu sangue e a sua vida. Essa impetuosidade e violĂȘncia de desejo mais atrapalha do que auxilia a condução do que empreendemos, enche-nos de acrimĂłnia e suspeição contra aqueles com quem tratamos. Nunca conduzimos bem a coisa pela qual somos possuĂ­dos e conduzidos.
Quem emprega nisso apenas o seu discernimento e a sua habilidade procede com mais vivacidade: amolda, dobra, difere tudo Ă  vontade, de acordo com as exigĂȘncias das circunstĂąncias; erra o alvo sem tormento e sem aflição, pronto e intacto para uma nova iniciativa; avança sempre com as rĂ©deas na mĂŁo. Naquele que estĂĄ embriagado por essa intensidade violenta e tirĂąnica vemos necessariamente muita imprudĂȘncia e injustiça; a impetuosidade do seu desejo arrebata-o: sĂŁo movimentos temerĂĄrios e, se a fortuna nĂŁo ajudar muito,

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InocĂȘncia, na acepção em que tomamos a palavra, quer dizer ignorĂąncia do que Ă© impuro. Quem cora ao ouvir uma imprudĂȘncia, claro Ă© que distingue, e quem distingue duas coisas conhece-as ambas.

A Amizade como Auxiliar da Virtude

A maioria dos homens, na sua injustiça, para nĂŁo dizer na sua imprudĂȘncia, quer possuir amigos tais como eles prĂłprios nĂŁo seriam. Exigem o que nĂŁo tĂȘm. O que Ă© justo Ă© que, primeiro, sejamos homens de bem e em seguida procuremos o que nos pareça sĂȘ-lo. SĂł entre homens virtuosos se pode estabelecer esta conveniĂȘncia em amizade, sobre a qual insisto hĂĄ muito tempo. Unidos pela benevolĂȘncia, guiar-se-ĂŁo nas paixĂ”es a que se escravizam os outros homens. AmarĂŁo a justiça e a equidade. EstarĂŁo sempre prontos a tudo empreender uns pelos outros, e nĂŁo se exigirĂŁo reciprocamente nada que nĂŁo seja honesto e legĂ­timo. Enfim, terĂŁo uns para os outros, nĂŁo somente deferĂȘncias e ternuras, mas, tambĂ©m, respeito. Eliminar o respeito da amizade Ă© podar-lhe o seu mais belo ornamento.
É pois erro funesto crer que a amizade abre via livre Ă s paixĂ”es e a todos os gĂ©neros de desordens. A natureza deu-nos a amizade, nĂŁo como cumplice do vĂ­cio, mas como auxiliar da virtude.
A fim de que a virtude, que, sozinha, não poderia chegar ao åpice, pudesse atingi-lo com o auxílio e o apoio de tal companhia. Aqueles para quem esta aliança existe, existiu ou existirå,

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A maior parte dos homens, em polĂ­tica como em tudo, atribui os resultados das suas imprudĂȘncias Ă  firmeza dos seus princĂ­pios.

Excesso de Leitura

Existem dois modos distintos de ler os autores: um deles Ă© muito bom e Ăștil, o outro, inĂștil e atĂ© mesmo perigoso. É muito Ăștil ler quando se medita sobre o que Ă© lido; quando se procura, pelo esforço da mente, resolver as questĂ”es que os tĂ­tulos dos capĂ­tulos propĂ”em, mesmo antes de se começar a lĂȘ-los; quando se ordenam e comparam as idĂ©ias umas com as outras; em suma, quando se usa a razĂŁo. Pelo contrĂĄrio, Ă© inĂștil ler quando nĂŁo entendemos o que lemos, e perigoso ler e formar conceitos daquilo que lemos quando nĂŁo examinamos suficientemente o que foi lido para julgar com cuidado, sobretudo se temos memĂłria bastante para reter os conceitos firmados e imprudĂȘncia bastante para concordar com eles. O primeiro modo de ler ilumina e fortifica a mente, aumentando o entendimento. O segundo diminui o entendimento e gradualmente o torna fraco, obscuro e confuso. Ocorre que a maior parte daqueles que se vangloriam de conhecer as opiniĂ”es dos outros estuda apenas do segundo modo. Quando mais lĂȘem, portanto, mais fracas e mais confusas se tornam as suas mentes.

A Chama da Vida e o Fogo das PaixÔes

Nem sempre estar apaixonado é bom. A maior parte das paixÔes tomam conta da vontade e assumem o controlo do sentir e do pensar. Prometem a maior das libertaçÔes, mas escravizam quem desiste de si mesmo e a elas se submete.

A paixĂŁo Ă© sofrimento, um furor que Ă© o oposto da paz e do contentamento. Um vazio fulminante capaz das maiores acrobacias para se satisfazer. Mas que, como nunca se sacia, acaba por se consumir, por se destruir a si mesmo. Para ter paz precisamos de fazer esta guerra, na conquista do mais exigente de todos os equilĂ­brios: entre a monotonia de nada arriscar e a imprudĂȘncia de entregar tudo sem uma vontade prĂłpria profunda. É essencial que saibamos desafiarmo-nos, por vezes, a um profundo desequilĂ­brio momentĂąneo. Afinal, quem nunca ousa estĂĄ perdido, para sempre.
Hå boas paixÔes. São as que trabalham como um fermento. De forma pacata, pacífica e paciente. Animam, mas não dominam. Orientam, mas não decidem. Iluminam, mas não cegam.

Quase ninguĂ©m faz ideia da capacidade que cada um de nĂłs tem para suportar e vencer grandes sofrimentos…

Por paixÔes comuns, hå quem perca a cabeça, o coração e a alma.

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