Querer que uma mulher ame toda a vida, Ă© tĂŁo absurdo como querer que a Primavera dure todo o ano.
Passagens de JĂșlio Dantas
57 resultadosAs mulheres não se dão ao trabalho de justificar e de analisar as suas afeiçÔes.
Todas as mulheres tĂȘm na vida uma hora perigosa. Essa hora decide da sua existĂȘncia inteira. Ă a hora do Diabo. Ă o instante de fragilidade em que sucumbem para sempre, ou em que para sempre se salvam.
A arte infiltra tudo, vive de tudo. Mas onde ela Ă© maior, Ă© precisamente onde menos se vĂȘ.
A boca, é nas mulheres, a feição que menos nos esquece.
A velhice Ă© um simples preconceito aritmĂ©tico, e todos nĂłs serĂamos mais jovens se nĂŁo tivĂ©ssemos o pĂ©ssimo hĂĄbito de contar os anos que vivemos.
Uma mulher é sempre uma interrogação.
Toda a cautela é pouca com imaginaçÔes sempre prontas a voar para a região dos sonhos dourados.
A IlusĂŁo da ConsistĂȘncia da Obra do Escritor
O homem nĂŁo Ă© permanentemente igual a si mesmo. A velha concepção dos carĂĄcteres rectilĂneos e das mentalidades cristalizadas em sistemas imutĂĄveis abriu falĂȘncia. Tudo muda, no espaço e no tempo. Para um organismo vivo, existir – mesmo no ponto de vista somĂĄtico – Ă© transformar-se. Quando começamos cedo e envelhecemos na actividade das letras, nĂŁo hĂĄ um nĂłs apenas um escritor; hĂĄ, ou houve, escritores sucessivos, mĂșltiplos e diversos, representando estados de evolução da mesma mentalidade incessantemente renovada. Ao chegar a altura da vida em que a estabilização se opera, olhamos para trĂĄs, e muitas das nossas prĂłprias obras parecem-nos escritas por um estranho, tĂŁo longe se encontram jĂĄ, nĂŁo apenas dos nossos processos literĂĄrios, mas do nosso espĂrito, das nossas tendĂȘncias, da nossa orientação, dos nossos pontos de vista Ă©ticos e estĂ©ticos.
Nesse exame retrospectivo, por vezes doloroso, se de algumas coisas temos de louvar-nos – obras a que a nossa mocidade comunicou a chama viva do entusiasmo e da paixĂŁo -, de outras somos forçados a reconhecer a pobreza da concepção, os vĂcios da linguagem, as carĂȘncias da tĂ©cnica, e tantas vezes (poenitet me!) as audĂĄcias, as incoerĂȘncias, as injustiças, as demasias, a licença de certas pinturas de costumes e o erro de certas atitudes morais.
As mulheres que atravessam a zona perigosa dos quarenta anos nunca se consideram felizes.
O amor nĂŁo Ă© uma futilidade ou um divertimento; Ă© um sentimento profundo, que decide de uma vida. NĂŁo hĂĄ o direito de o falsificar.
A inteligĂȘncia e a vivacidade da mulher afugentam de ordinĂĄrio os homens medĂocres, cujo orgulho de posse prefere, Ă beleza vivaz e raciocinadora, a beleza triste, passiva, submissa e silenciosa.
NĂŁo hĂĄ nada que valha a dignidade do silĂȘncio.
Se as mulheres bonitas tivessem todos os amantes que lhes atribuem, nĂŁo havia maior castigo do que a beleza.
Ă nas velhas casas, onde parece flutuar ainda a penumbra dourada do passado, que se recebe, mais perdurĂĄvel e mais viva, a impressĂŁo da famĂlia e do lar.
O amor nasce de quase nada e morre de quase tudo.
O Talento na Juventude e na Velhice
Nada menos exacto do que supor que o talento constitui privilĂ©gio da mocidade. NĂŁo. Nem da mocidade, nem da velhice. NĂŁo se Ă© talentoso por se ser moço, nem genial por se ser velho. A certidĂŁo de idade nĂŁo confere superioridade de espĂrito a ninguĂ©m. Nunca compreendi a hostilidade tradicional entre velhos e moços (que aliĂĄs enche a histĂłria das literaturas); e nĂŁo percebo a razĂŁo por que os homens se lançam tantas vezes recĂprocamente em rosto, como um agravo, a sua velhice ou a sua juventude.
Ser idoso nĂŁo quer dizer que se seja necessĂĄriamente intolerante e retrĂłgado; e engana-se quem supuser que a mocidade, por si sĂł, constitui garantia de progresso ou de renovação mental. As grandes descobertas que ilustram a histĂłria da ciĂȘncia e contribuiram para o progresso humano sĂŁo, em geral, obra dos velhos sĂĄbios; e a mocidade literĂĄria, negando embora sistemĂĄticamente o passado, Ă© nele que se inspira, atĂ© que o escritor adquire (quando adquire) personalidade prĂłpria.
(…) A mocidade, em geral, nĂŁo cria; utiliza, transformando-o, o legado que recebeu. Juventude e velhice nĂŁo se opĂ”em; completam-se na harmonia universal dos seres e das coisas. A vida nĂŁo Ă© sĂł o entusiasmo dos moços;
NĂŁo sĂŁo as mulheres muito inteligentes que despertam as maiores paixĂ”es. A inteligĂȘncia tem qualquer coisa de ĂĄgil, de mĂĄsculo, de irritante, que repele a sensualidade misteriosa do homem.
O homem Ă© um animal essencialmente infiel.
O que foi sempre o amor senĂŁo a mais dolorosa, a mais voluptuosa das mentiras?