Textos sobre Cortesia de Baltasar Gracián

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Textos de cortesia de Baltasar Gracián. Leia este e outros textos de Baltasar Gracián em Poetris.

Nunca Competir

Toda a pretensão com oposição prejudica o crédito; a competição tira logo a desdourar, para deslustrar. São poucos os que fazem boa guerra. A emulação descobre os defeitos que a cortesia esqueceu; muitos viveram acreditados enquanto não tiveram adversários. O calor da contestação aviva ou ressuscita infâmias mortas, desenterra hediondezas passadas e antepassadas. Começa a competição com manifestos de desdouros, socorrendo-se de tudo o que pode e não deve; e, ainda que às vezes, e no mais das vezes, as ofensas não sejam armas proveitosas, delas tira vil satisfação para sua vingança, e esta sacode com tais ares que faz saltar pelos desares o pó do esquecimento. Sempre foi pacífica a benevolência e benévola a reputação.

Fazer Depender

Não faz o nome quem o doura, mas quem o adora. O sagaz mais quer necessitados de si que agradecidos. É furtar-se à esperança cortês o fiar-se no agradecimento do vulgo, pois o que aquela tem de memoriosa este tem de esquecidiço. Mais se extrai da dependência que da cortesia; quem está satisfeito dá as costas à fonte, e a laranja espremida cai do ouro ao lodo.
Acabada a dependência, acaba a correspondência, e com ela a estima. Seja lição, e sobretudo de experiência, mantê-la, não a satisfazer, conservando sempre em necessidade de si até o coroado senhor; mas não se há-de chegar ao excesso de calar para que errem, nem de deixar sem remédio o dano alheio para proveito próprio.

Saber Negar

Nem tudo se há-de conceder, nem a todos. É tão importante quanto o saber conceder, e nos que mandam é consideração indispensável. Aí entra o modo. Mais se preza o não de alguns que o sim de outros, porque um não dourado satisfaz mais que um sim a seco. Há muitos que têm sempre um não na boca. Neles o não é sempre o primeiro, e, ainda que depois tudo venham a conceder, não se entende por que precedeu aquela primeira mágoa. Não deverão as coisas ser negadas de chofe: sorva-se aos tragos o desengano; nem se negue de todo, que seria desesperar a dependência. Que fiquem sempre alguns vestígios de esperança a temperar o amargor do negar. Que a cortesia encha o vazio do favor e que as boas palavras supram a falta das obras. O não e o sim são breves de dizer, e pedem muito pensar.