Textos sobre DecisÔes de Fernando Pessoa

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Textos de decisÔes de Fernando Pessoa. Leia este e outros textos de Fernando Pessoa em Poetris.

O Meu CarĂĄcter

Cumpre-me agora dizer que espĂ©cie de homem sou. NĂŁo importa o meu nome, nem quaisquer outros pormenores externos que me digam respeito. É acerca do meu carĂĄcter que se impĂ”e dizer algo.
Toda a constituição do meu espĂ­rito Ă© de hesitação e dĂșvida. Para mim, nada Ă© nem pode ser positivo; todas as coisas oscilam em torno de mim, e eu com elas, incerto para mim prĂłprio. Tudo para mim Ă© incoerĂȘncia e mutação. Tudo Ă© mistĂ©rio, e tudo Ă© prenhe de significado. Todas as coisas sĂŁo «desconhecidas», sĂ­mbolos do Desconhecido. O resultado Ă© horror, mistĂ©rio, um medo por de mais inteligente.
Pelas minhas tendĂȘncias naturais, pelas circunstĂąncias que rodearam o alvor da minha vida, pela influĂȘncia dos estudos feitos sob o seu impulso (estas mesmas tendĂȘncias) – por tudo isto o meu carĂĄcter Ă© do gĂ©nero interior, autocĂȘntrico, mudo, nĂŁo auto-suficiente mas perdido em si prĂłprio. Toda a minha vida tem sido de passividade e sonho. Todo o meu carĂĄcter consiste no Ăłdio, no horror e na incapacidade que impregna tudo aquilo que sou, fĂ­sica e mentalmente, para actos decisivos, para pensamentos definidos. Jamais tive uma decisĂŁo nascida do autodomĂ­nio, jamais traĂ­ externamente uma vontade consciente. Os meus escritos,

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Hoje Tomei a DecisĂŁo de Ser Eu

Hoje, ao tomar de vez a decisĂŁo de ser Eu, de viver Ă  altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacĂŁo de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressĂ”es pelos outros, na posse plena do meu GĂ©nio e na divina consciĂȘncia da minha MissĂŁo. Hoje sĂł me quero tal qual meu carĂĄcter nato quer que eu seja; e meu GĂ©nio, com ele nascido, me impĂ”e que eu nĂŁo deixe de ser.
Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou.
Nada de desafios Ă  plebe, nada de girĂąndolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade nĂŁo se mascara de palhaço; Ă© de renĂșncia e de silĂȘncio que se veste.
O Ășltimo rasto de influĂȘncia dos outros no meu carĂĄcter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim.
Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci.