Quem Aprendeu a Morrer Desaprendeu de Servir
Os homens vĂŁo, vĂȘm, andam, dançam, e nenhuma notĂcia de morte. Tudo isso Ă© muito bonito. Mas, tambĂ©m quando ela chega, ou para eles, ou para as suas mulheres, filhos e amigos, surpreendendo-os imprevistamente e sem defesa, que tormentos, que gritos, que dor e que desespero os abatem! JĂĄ vistes algum dia algo tĂŁo rebaixado, tĂŁo mudado, tĂŁo confuso? Ă preciso preparar-se mais cedo para ela; e essa despreocupação de animal, caso pudesse instalar-se na cabeça de um homem inteligente, o que considero inteiramente impossĂvel, vende-nos caro demais a sua mercadoria. Se fosse um inimigo que pudĂ©ssemos evitar, eu aconselharia a adoptar as armas da cobardia. Mas, como isso nĂŁo Ă© possĂvel, como ele vos alcança fugitivo e poltrĂŁo tanto quanto corajoso, De facto ele persegue o cobarde que lhe foge, e nĂŁo poupa os jarretes e o dorso poltrĂŁo de uma juventude sem coragem (HorĂĄcio), e que nenhuma ilusĂŁo de couraça vos encobre, InĂștil esconder-se prudentemente sob o ferro e o bronze: a morte saberĂĄ fazer-se expĂŽr Ă cabeça que se esconde (PropĂ©rcio), aprendamos a enfrentĂĄ-lo de pĂ© firme e a combatĂȘ-lo. E, para começar a roubar-lhe a sua maior vantagem contra nĂłs, tomemos um caminho totalmente contrĂĄrio ao habitual.
Textos sobre Defesa de Michel de Montaigne
3 resultadosA Inépcia é Pior que a Falsidade
Toda a gente pode falar com verdade; mas falar com ordem, com prudĂȘncia e capazmente, poucos o podem. Por isso, a falsidade que vem da ignorĂąncia nĂŁo me ofende; a inĂ©pcia, sim. Quebrei vĂĄrias negociaçÔes que me eram Ășteis, por causa da estupidez que punham nas discussĂ”es aqueles com quem negociava. Nem uma vez por ano me irrito com as faltas dos meus subordinados; mas, no que respeita Ă idiotice e teimosia das suas alegaçÔes, Ă s desculpas e defesas asininas e brutas, andamos todos os dias Ă s turras. NĂŁo entendem nem o que se lhes diz nem a razĂŁo das coisas e respondem na mesma; Ă© de desesperar.
SĂł outra cabeça Ă© capaz de impressionar fortemente a minha e acomodo-me melhor com os erros dos meus do que com a sua leviandade, impertinĂȘncia e estupidez. Que façam menos, contanto que façam bem alguma coisa; vive-se na esperança de lhes excitar a vontade, mas de estĂșpidos nĂŁo hĂĄ que esperar nem que lucrar coisa que valha.
As InfluĂȘncias no Estado de EspĂrito
Agora estou disposto a fazer tudo, agora a nada fazer; o que me é um prazer neste momento em alguma outra vez me serå um esforço. Acontecem em mim mil agitaçÔes desarrazoadas e acidentais. Ou o humor melancólico me domina, ou o colérico; e, com a sua autoridade pessoal, neste momento a tristeza predomina em mim, neste momento a alegria. Quando pego em livros, terei captado em determinada passagem qualidades excelentes e que terão tocado a minha alma; quando uma outra vez volto a deparar com ela, por mais que a vire e revire, por mais que a dobre e apalpe, é para mim uma massa desconhecida e informe.
Mesmo nos meus escritos nem sempre reencontro o sentido do meu pensamento anterior: nĂŁo sei o que quis dizer, e amiĂșde me esfalfo corrigindo e dando-lhe um novo sentido, por haver perdido o primeiro, que valia mais. NĂŁo faço mais que ir e vir: o meu julgamento nem sempre caminha para a frente; ele flutua, vagueia, Como um barquinho frĂĄgil surpreendido no vasto mar por uma tempestade violenta (Catulo).
Muitas vezes (como habitualmente me advĂ©m fazer), tendo tomado para defender, por exercĂcio e por diversĂŁo, uma opiniĂŁo contrĂĄria Ă minha,