Textos sobre Direito de René Descartes

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Textos de direito de René Descartes. Leia este e outros textos de René Descartes em Poetris.

O Verdadeiro e o Falso CiĂșme

O ciĂșme Ă© uma espĂ©cie de temor, que se relaciona com o desejo de conservarmos a posse de algum bem; e nĂŁo provĂ©m tanto da força das razĂ”es que levam a julgar que podemos perdĂȘ-lo, como da grande estima que temos por ele, a qual nos leva a examinar atĂ© os menores motivos de suspeita e a tomĂĄ-los por razĂ”es muito dignas de consideração.
E como devemos empenhar-nos mais em conservar os bens que sĂŁo muito grandes do que os que sĂŁo menores, em algumas ocasiĂ”es essa paixĂŁo pode ser justa e honesta. Assim, por exemplo, um chefe de exĂ©rcito que defende uma praça de grande importĂŁncia tem o direito de ser zeloso dela, isto Ă©, de suspeitar de todos os meios pelos quais ela poderia ser assaltada de surpresa; e uma mulher honesta nĂŁo Ă© censurada por ser zelosa de sua honra, isto Ă©, por nĂŁo apenas abster-se de agir mal como tambĂ©m evitar atĂ© os menores motivos de maledicĂȘncia.
Mas zombamos de um avarento quando ele Ă© ciumento do seu tesouro, isto Ă©, quando o devora com os olhos e nunca quer afastar-se dele, com medo que ele lhe seja furtado; pois o dinheiro nĂŁo vale o trabalho de ser guardado com tanto cuidado.

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A Verdadeira Generosidade

Observo em nĂłs apenas uma Ășnica coisa que nos pode dar justa razĂŁo para nos estimarmos, a saber: o uso do nosso livre-arbĂ­trio e o domĂ­nio que temos sobre as nossas vontades. Pois as acçÔes que dependem desse livre-arbĂ­trio sĂŁo as Ășnicas pelas quais podemos com razĂŁo ser louvados ou censurados, e ele torna-nos de alguma forma semelhante a Deus ao fazer-nos senhores de nĂłs mesmos, desde que por cobardia nĂŁo percamos os direitos que nos dĂĄ.
Assim, creio que a verdadeira generosidade, que faz um homem estimar-se a si mesmo no mais alto grau em que pode legitimamente estimar-se, consiste somente, por uma parte, em que ele sabe que não hå algo que realmente lhe pertença a não ser essa livre disposição das suas vontades, nem por que ele deva ser louvado ou censurado a não ser porque faz bom ou mau uso dela; e, por outra parte, em que ele sente em si mesmo uma firme e constante resolução de fazer bom uso dela, isto é, de nunca deixar de ter vontade para empreender e executar todas as coisas que julgar serem as melhores. Isso é seguir perfeitamente a virtude.

Nota: O latim generosus designa o homem ou animal que é de boa raça.

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