O Homem Pensador e a Mulher Faladora
O homem pensador Ă© necessariamente taciturno. A mulher faladora nĂŁo consegue atordoar-lhe o espĂrito, mas faz-lhe nos ouvidos a traquinada intolerável de uma matraca. A matraca afuguenta do coração todas as quimeras do amor. NĂŁo vos caseis com homem pensador, mulheres que falais um momento antes de pensar o que direis. O amor —se vo-lo pode inspirar tal homem—fará que nĂŁo fecheis olhos velando-lhe a doença; fará que lhe sacrifiqueis os haveres, a reputação e a vida; fará tudo que humanamente pode fazer um anjo de sacrifĂcio, mas nĂŁo vos fará calar. O feudo mais pesado que uma tal mulher pĂ´de impĂ´r a um homem Ă© — a obrigação de ouvi-la.
A ofensa que tal mulher nunca perdoa Ă© — a insolĂŞncia de ouvi-la, sem escutá-la. Vejam num dicionário a diferença das duas palavras. Escutar Ă© querer ouvir. Uma bela mulher, capaz de extremos, tentou a franqueza do amante que, em vĂ©speras de matrimonio, lhe disse: «nĂŁo faltes tanto.» A noiva pesou estas palavras, reflectiu, calculou as suas forças, chorou, atormentou-se, e disse: «nĂŁo me casarei: Ă© impossĂvel calar-me.» Para que me nĂŁo tomem isto como anedota, Ă© preciso dizer-lhes que esta mulher foi acerbamente ferida no seu orgulho.
Textos sobre Doença de Camilo Castelo Branco
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A Seriedade é uma Doença
A seriedade Ă© uma doença, e o mais sĂ©rio dos animais Ă© o burro. NinguĂ©m lhe tira, nem com afagos nem com a chibata aquele semblante cabido de mágoas recĂ´nditas que o ralam no seu peito. Há nele a linha, o perfil do sábio refugado no concurso ao magistĂ©rio, do candidato á camara baixa bigodeado pela perfĂdia de eleitores que, saturados de genebra e Carta constitucional, desde a taberna atĂ© Ă urna, fermentaram a crisálida de consciĂŞncias novas. O burro Ă© assim triste por fora; mas Ă© feliz por dentro, e riria dos seus homĂłnimos, se pudesse igualá-os na faculdade de rir, que Ă© exclusiva do homem e da hiena, a qual ri com umas exultações ferozes tĂŁo autĂŞnticas como as lágrimas insidiosas do crocodilo.