O Talento na Juventude e na Velhice

Nada menos exacto do que supor que o talento constitui privilégio da mocidade. Não. Nem da mocidade, nem da velhice. Não se é talentoso por se ser moço, nem genial por se ser velho. A certidão de idade não confere superioridade de espírito a ninguém. Nunca compreendi a hostilidade tradicional entre velhos e moços (que aliås enche a história das literaturas); e não percebo a razão por que os homens se lançam tantas vezes recíprocamente em rosto, como um agravo, a sua velhice ou a sua juventude.
Ser idoso nĂŁo quer dizer que se seja necessĂĄriamente intolerante e retrĂłgado; e engana-se quem supuser que a mocidade, por si sĂł, constitui garantia de progresso ou de renovação mental. As grandes descobertas que ilustram a histĂłria da ciĂȘncia e contribuiram para o progresso humano sĂŁo, em geral, obra dos velhos sĂĄbios; e a mocidade literĂĄria, negando embora sistemĂĄticamente o passado, Ă© nele que se inspira, atĂ© que o escritor adquire (quando adquire) personalidade prĂłpria.
(…) A mocidade, em geral, nĂŁo cria; utiliza, transformando-o, o legado que recebeu. Juventude e velhice nĂŁo se opĂ”em; completam-se na harmonia universal dos seres e das coisas. A vida nĂŁo Ă© sĂł o entusiasmo dos moços;

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