A Felicidade Está no Realizar, e Não no Usufruir
Atolavam-se na ilusĂŁo da felicidade que extraĂam dos bens possuĂdos. Ora a felicidade o que Ă© senĂŁo o calor dos actos e o contentamento da criação? Aqueles que deixam de trocar seja o que for deles prĂłprios e recebem de outrem o alimento, nem que fosse o mais bem escolhido e o mais delicado, aqueles que ouvem subtilmente os poemas alheios sem escreverem os poemas prĂłprios, aproveitam-se do oásis sem o vivificarem, consomem cânticos que lhes fornecem, e fazem lembrar os que se apegam Ă s mangedouras no estábulo e, reduzidos ao papel de gado, mostram-se prontos para a escravatura.
Textos sobre Felicidade de Antoine de Saint-Exupéry
2 resultadosFelicidade com Poucos Bens
Embora a experiĂŞncia me tenha ensinado que se descobrem homens felizes em maior proporção nos desertos, nos mosteiros e no sacrifĂcio do que entre os sedentários dos oásis fĂ©rteis ou das ilhas ditas afortunadas, nem por isso cometi a asneira de concluir que a qualidade do alimento se opusesse Ă natureza da felicidade. Acontece simplesmente que, onde os bens sĂŁo em maior nĂşmero, oferecem-se aos homens mais possibilidades de se enganarem quanto Ă natureza das suas alegrias: elas, efectivamente, parecem provir das coisas, quando eles as recebem do sentido que essas coisas assumem em tal impĂ©rio ou em tal morada ou em tal propriedade. Para já, pode acontecer que eles, na abastança, se enganem com maior facilidade e façam circular mais vezes riquezas vĂŁs. Como os homens do deserto ou do mosteiro nĂŁo possuem nada, sabem muito bem donde lhes vĂŞm as alegrias e Ă©-lhes assim mais fácil salvarem a prĂłpria fonte do seu fervor.