O Engano do Imediato

É preciso dominar a impressĂŁo produzida pelo que Ă© visĂ­vel e presente; tal impressĂŁo tem uma força extraordinĂĄria se for confrontada com o que Ă© meramente pensado e sabido, nĂŁo em virtude de sua matĂ©ria e seu conteĂșdo, frequentemente insignificantes, mas da sua forma, da clareza e do imediatismo por meio dos quais ela se impĂ”e ao espĂ­rito, perturbando a sua paz ou atĂ© mesmo fazendo vacilar os seus propĂłsitos. É assim que algo agradĂĄvel, ao qual renunciamos depois de reflectir, nos estimula quando o temos diante dos olhos; assim nos magoa um julgamento cuja incompetĂȘncia Ă© do nosso conhecimento, irrita-nos uma ofensa cujo carĂĄcter desprezĂ­vel compreendemos; da mesma maneira, dez razĂ”es contra a existĂȘncia de um perigo sĂŁo sobrepujadas pela falsa aparĂȘncia da sua real presença etc.

(…) Quando todos os que nos circundam tĂȘm uma opiniĂŁo diferente da nossa e se comportam em conformidade com ela, Ă© difĂ­cil nĂŁo ficarmos abalados, por mais que estejamos convencidos do erro dessas pessoas. Pois o que Ă© presente, o visĂ­vel, por estar facilmente ao alcance da vista, age sempre com toda a sua força; em contrapartida, pensamentos e causas requerem tempo e calma para serem analisados com cuidado, razĂŁo pela qual nĂŁo podemos tĂȘ-los presentes a todo o instante.

Continue lendo…