A Acção Mais Degradada
A acção mais degradada é a daquele que não age e passa procuração a outrem para agir – a dos frequentadores dos espectáculos de luta e a dos consumidores da literatura de violência. Ser herói e através de outrem, ser corajoso em imaginação, é o limite extremo da acção gratuita, do orgulho ou da vaidade que não ousa. Corre-se o risco sem se correr, experimenta-se como se se experimentasse, colhe-se o prazer do triunfo sem nada arriscar. E é por isso que os fIlmes de guerra, do heroísmo policial, de espionagem, têm de acabar bem. Porque o que aí se procura é justamente o sabor do triunfo e nâo apenas do risco. O gosto do risco procura-o o herói real, o jogador que pode perder. Mas o espectador da sua luta, degradado na sedução da acção, acentua a sua mediocridade no não poder aceitar a derrota, no fingir que corre o risco mesmo em ficção, mas com a certeza prévia de que o risco é vencido. O que ele procura é a pequena lisonja à sua vaidade pequena, a figuração da coragem para a sua cobardia, e só a vitória do herói a quem passou procuração o pode lisonjear.
E se o herói morre em grandeza,
Textos sobre Filmes de Vergílio Ferreira
2 resultadosA TV Como Instrumento Redutor
Porque é que a TV foi essa «caixinha que revolucionou o mundo»? Faço a pergunta e as respostas vêm em turbilhão. Fez de tudo um espectáculo, fez do longe o mais perto, promoveu o analfabetismo e o atraso mental. De um modo geral, desnaturou o homem. E sobretudo miniturizou-o, fazendo de tudo um pormenor, isturado ao quotidiano doméstico. Porque mesmo um filme ou peça de teatro ou até um espectáculo desportivo perdem a grandeza e metafísica de um largo espaço de uma comunidade humana.
Já um acto religioso é muito diferente ao ar livre ou no interior de uma catedral. Mas a TV é algo de minúsculo e trivial como o sofá donde a presenciamos. Diremos assim e em resumo que a TV é um instrumento redutor. Porque tudo o que passa por lá chega até nós diminuído e desvalorizado no que lhe é essencial. E a maior razão disso não está nas reduzidas dimensões do ecrã, mas no facto de a «caixa revolucionadora» ser um objecto entre os objectos de uma sala.
Mas por sobre todos os males que nos infligiu, ergue-se o da promoção do analfabetismo. Ser é um acto difícil e olhar o boneco não dá trabalho nenhum.