Sensibilidade e Maturidade
Uma certa vivacidade de impressões, mais directamente dependentes da sensibilidade fĂsica, decresce com a idade. Ao chegar aqui, e sobretudo depois de ter aqui passado alguns dias, nĂŁo senti, desta vez, essas vagas de tristeza ou de entusiasmo que este local me costumava comunicar, e cuja recordação, depois, me era tĂŁo doce.
Deixá-lo-ei, se calhar, sem a pena que outrora sentia. O meu espĂrito, por seu turno, tem hoje uma segurança muito maior, uma maior capacidade de fazer associações e de se exprimir; a inteligĂŞncia cresceu, mas a alma perdeu parte da sua elasticidade e irritabilidade. E porque Ă© que, ao fim e ao cabo, nĂŁo partilhará o homem o destino comum de todos os outros seres?
Ao pegarmos num fruto delicioso, será justo pretender respirar ao mesmo tempo o perfume da flor? Foi preciso passar pela subtil delicadeza da nossa sensibilidade juvenil para chegar a esta segurança e maturidade do espĂrito. Talvez os grandes homens – Ă© o que eu penso – sejam aqueles que, numa idade em que a inteligĂŞncia possui já a sua plena força, ainda conservam parte dessa impetuosidade das impressões, que Ă© prĂłpria da juventude.
Textos sobre Fim de Eugène Delacroix
3 resultadosO Constante Desejo de Mudança Cega o Progresso
Penso, baseando-me em todos os dados que de há um ano para cá nos saltam aos olhos, que se pode afirmar que qualquer progresso deve acarretar necessariamente nĂŁo um avanço ainda maior mas, ao fim e ao cabo, a negação do progresso e o retorno ao ponto de partida. A histĂłria do gĂ©nero humano prova-o. No entanto, a confiança cega desta geração, e da que a precedeu, nas ideias modernas, no advento de nĂŁo sei que era da humanidade que deveria marcar uma profunda transformação – mas que, no meu entender, para influenciar o destino de cada um deveria antes de mais afectá-lo na prĂłpria natureza do homem -, esta confiança no futuro, que nada nos sĂ©culos que nos precederam justifica, constitui seguramente a Ăşnica garantia desses bens futuros, dessas revoluções tĂŁo desejadas pela vontade dos homens.
NĂŁo será evidente que o progresso, ou seja a marcha progressiva das coisas – tanto para o bem como para o mal -, acabou, hoje, por conduzir a sociedade Ă beira de um abismo, onde ela poderá facilmente vir a cair para dar lugar Ă mais completa barbárie? E a razĂŁo disso, a Ăşnica razĂŁo para que isso suceda, nĂŁo residirá nessa lei que neste mundo impõe a todas as outras: isto Ă©,
A Mediocridade que Vulgariza o Talento
NĂŁo se tem ideia como abunda a mediocridade. (…) SĂŁo pessoas como essas que travam sempre, em todos os lados, a máquina accionada pelos homens de talento. Os homens superiores sĂŁo por natureza inovadores. Quando surgem deparam com o disparate e a mediocridade por todos os lados (ela que tudo domina e que se manifesta em tudo o que se faz). O seu impulso natural Ă© assentar tudo de novo em terreno sĂłlido e experimentar caminhos novos, para fugir a essa vulgaridade e parvoĂce. Se por acaso eles triunfam e acabam por levar a melhor sobre a rotina, tĂŞm de ser ver a contas, por seu turno, com os incapazes – que fazem ponto de honra da cĂłpia grosseira dos seus processos e estragam tudo o que lhes vem Ă s mĂŁos.
Depois deste primeiro movimento, que leva os inovadores a sairem das sendas já traçadas, segue-se quase sempre outro que os faz, no fim da sua carreira, conter o indiscreto entusiasmo que vai sempre demasiado longe e que, pelo exagero, arruina o que inventaram. Ao se darem conta do triste uso que é feito das inovações que eles lançaram no mundo, começam a elogiar aquilo que, afinal, graças a eles,