Fazer Depender

Não faz o nome quem o doura, mas quem o adora. O sagaz mais quer necessitados de si que agradecidos. É furtar-se à esperança cortês o fiar-se no agradecimento do vulgo, pois o que aquela tem de memoriosa este tem de esquecidiço. Mais se extrai da dependência que da cortesia; quem está satisfeito dá as costas à fonte, e a laranja espremida cai do ouro ao lodo.
Acabada a dependência, acaba a correspondência, e com ela a estima. Seja lição, e sobretudo de experiência, mantê-la, não a satisfazer, conservando sempre em necessidade de si até o coroado senhor; mas não se há-de chegar ao excesso de calar para que errem, nem de deixar sem remédio o dano alheio para proveito próprio.