Liberdade com Limites
Há muitas espécies de liberdade. Umas tem o mundo de menos, outras tem o mundo de mais. Mas ao dizer que pode haver «de mais» de uma certa espécie de liberdade devo apressar-me a acrescentar que a única espécie de liberdade que considero indesejável é aquela que permite diminuir a liberdade de outrem, por exemplo, a liberdade de fazer escravos.
O mundo nĂŁo pode garantir-se a maior quantidade possĂvel de liberdade instituindo, pura e simplesmente, a anarquia, pois nesse caso os mais fortes seriam capazes de privar da liberdade os mais fracos. Duvido de que qualquer instituição social seja justificável se contribui para diminuir o quantitativo total de liberdade existente no mundo, mas certas instituições sociais sĂŁo justificáveis apesar do facto de coarctarem a liberdade de um certo indivĂduo ou grupo de indivĂduos.
No seu sentido mais elementar, liberdade significa a ausĂŞncia de controles externos sobre os actos de indivĂduos ou grupos. Trata-se, portanto, de um conceito negativo, e a liberdade, por si sĂł, nĂŁo confere a uma comunidade qualquer alta valia.
Os EsquimĂłs, por exemplo, podem dispensar o Governo, a educação obrigatĂłria, o cĂłdigo das estradas, e atĂ© as complicações incrĂveis do cĂłdigo comercial. A sua vida,
Textos sobre Governo de Bertrand Russell
3 resultadosO Jugo da Maquinaria PolĂtica
Os interesses comuns do gĂ©nero humano sĂŁo enumeráveis e ponderáveis, porĂ©m a maquinaria polĂtica existente obscurece-os por causa da luta em torno do poder entre diferentes nações e partidos. Máquina diferente, que nĂŁo exigisse modificações legislativas ou constitucionais e que nĂŁo fosse muito difĂcil de criar, minaria a fortaleza da paixĂŁo nacional e partidária e focalizaria a atenção sobre medidas benfazejas a todos, em vez de concentrá-la em prejudicar o inimigo. No meu entender, Ă© por esta directriz, e nĂŁo pelo governo nacionalmente partidário, que se encontrará a saĂda dos perigos que actualmente ameaçam a civilização. O saber existe, e a boa vontade; ambos porĂ©m continuarĂŁo impotentes enquanto nĂŁo possuirem orgĂŁos prĂłprios para se fazerem ouvir.
O Governo Mundial
Pode evitar-se a guerra por algum tempo por meio de paliativos, expedientes ou uma diplomacia subtil, mas tudo isso Ă© precário, e enquanto durar o nosso sistema polĂtico actual, pode ser considerado como quase certo que grandes conflitos hĂŁo-de surgir de vez em quando. Isso acontecerá inevitavelmente enquanto houver diferentes Esados soberanos, cada um com as suas forças armadas e juiz supremo dos seus prĂłprios direitos em qualquer disputa. Há somente um meio de o mundo poder libertar-se da guerra, Ă© a criação de uma autoridade mundial Ăşnica, que possua o monopĂłlio de todas as armas mais perigosas.
Para que um governo mundial pudesse evitar graves conflitos, seria indispensável possuir um mĂnimo de poderes. Em primeiro lugar precisava de ter o monopĂłlio de todas as principais armas de guerra e as forças armadas necessárias para o seu emprego. Devia tambĂ©m tomar as precauções indispensáveis, quaisquer que fossem, para assegurar, em todas as circunstâncias, a lealdade dessas forças ao governo central.
O governo mundial tinha de formular, portanto, certas regras relativas ao emprego das suas forças armadas. A mais importante determinaria que, em qualquer conflito entre dois Estados. cada um tinha de se submeter às decisões da autoridade mundial.