Idiotia e Felicidade
Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor? Pois explico já. A idiotia e a felicidade sĂŁo ideias muito vagas, difĂceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia Ă© susceptĂvel de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espĂ©cie de segurança em si prĂłprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito prĂłxima do que se pode chamar estado de felicidade.Assim sendo, nĂŁo vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. Uma delas foi experimentada comigo. Uma parente minha queria por força reconverter-me ao Catolicismo e, deste modo, passava a vida a dizer-me: «Alexandre, nĂŁo penses. Se começas a pensar estragas tudo. A crença em Deus, se, em vez de pensares, reaprenderes a rezar, vem por si. É uma graça, sabias? Vá, reza comigo.» E ensinava-me orações que eu, muitas vezes de mĂŁos postas, repetia aplicadamente. Acabei por nĂŁo me casar com ela.
Não quero dizer, com isto, que não acredite na chamada (creio eu) revelação. Se revelação não existisse, como poderia um poeta do tomo de Paul Claudel entrar um dia em Notre-Dame e sentir-se,
Textos sobre Ideias de Alexandre O'Neill
2 resultadosDesaprender
Há uma altura em que, depois de se saber tudo, tem de se desaprender. Sucede assim com o escrever. Com o escrever do escritor, entenda-se. Eu, provavelmente poeta, estou a aprender a… desaprender. E para quĂŞ e como se desaprende? Para deixar de ronronar, para que o leitor, quando o nosso produto lhe chega Ă s mĂŁos, nĂŁo exclame, satisfeito ou enfastiado: «- Cá está ele!».
Na verdura dos seus anos, a preocupação do escritor parece ser a da originalidade. Ser-se original é mostrar-se que se é diferente. E as pessoas gostam das primeiras piruetas que um sujeito dá. E o sujeito gosta de que as pessoas vejam nele um talento.
Atenção, vêm aà as receitas, as ideias feitas, os passes de mão, os clichés, os lugares selectos ou, mais comezinhamente, os lugares comuns. O escritor está instalado. Revê-se na sua obra. Começa a abalançar-se a voos mais altos, a mergulhos mais fundos. É a intelectualidade que o chama ao seu seio, o público que o põe, vertical, nas suas prateleiras. Arrumado.
Quase sem dar por isso, o escritor acomodou-se e tornou-se cĂłmodo, quando propendia, nos seus verdes anos, a incomodar-se e a tornar-se incĂłmodo. Organiza «dossiers» com os recortes das crĂticas que lhe fizeram ao longo da sua carreira (nome,