Textos sobre InocĂȘncia

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Textos de inocĂȘncia escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

No Amor Começa-se Sempre a Zero

Fazer um registo de propriedade Ă© chato e difĂ­cil mas fazer uma declaração de amor ainda Ă© pior. NinguĂ©m sabe como. NĂŁo hĂĄ minuta. NĂŁo hĂĄ sequer um despachante ao qual o premente assunto se possa entregar. As declaraçÔes de amor tĂȘm de ser feitas pelo prĂłprio. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada — por muitas declaraçÔes que jĂĄ se tenham feito, cada uma Ă© completamente diferente das anteriores. No amor, aliĂĄs, a experiĂȘncia sĂł demonstra uma coisa: que nĂŁo tem nada que estar a demonstrar coisĂ­ssima nenhuma. É verdade — começa-se sempre do zero. Cada vez que uma pessoa se apaixona, regressa Ă  suprema inocĂȘncia, inĂ©pcia e barbĂĄrie da puberdade. Sobem-nos as bainhas das calças nas pernas e quando damos por nĂłs estamos de calçÔes. A experiĂȘncia nĂŁo serve de nada na luta contra o fogo do amor. Imaginem-se duas pessoas apanhadas no meio de um incĂȘndio, sem poderem fugir, e veja-se o sentido que faria uma delas virar-se para a outra e dizer: «Ouve lĂĄ, tu que tens experiĂȘncia de queimaduras do primeiro grau…»

Pode ter-se sessenta anos. Mas no dia em que o peito sacode com as aurĂ­culas a brincar aos carrinhos-de-choque com os ventrĂ­culos,

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Uma Mentira

Uma mentira, fina como um cabelo, perturba para sempre a ordem do mundo. Aquilo que sabemos tem muita importĂąncia. Tomamos decisĂ”es, vamos por aqui ou por ali, consoante aquilo que sabemos. E tudo o que virĂĄ a seguir, o futuro atĂ© ao fim dos tempos, serĂĄ diferente se formos por um lado em vez de irmos por outro. Nascem pessoas devido a insignificĂąncias, morrem pessoas pelo mesmo motivo. Uma pessoa Ă© uma mĂĄquina de coisas a acontecer, possibilidades multiplicadas por possibilidades em todos os instantes do seu tempo. Uma mentira, mesmo que transparente, perturba o entendimento que os outros tĂȘm da realidade, leva-os a acreditar que Ă© aquilo que nĂŁo Ă©. Essa poluição vai turvar-lhes a lĂłgica do mundo. As conclusĂ”es a que forem capazes de chegar serĂŁo calculadas a partir de um dado falso e, desse ponto em diante, todas as contas serĂŁo multiplicaçÔes de erros. Uma mentira baralha tudo aquilo em que toca, desequilibra o mundo. É por isso que uma mentira precisa sempre de mentiras novas para se suster. O mundo nĂŁo lhe dĂĄ cobertura. Para alcançar coerĂȘncia, cada mentira requer a criação apressada de um mundo de mentira que a suporte. É assim que a mentira vai avançando pela verdade adentro,

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Regressar Ă  InocĂȘncia

Seja como as crianças, mantenha os olhos abertos, sem preconceitos escondidos atrĂĄs da vista. Se olhar com clareza, pequenas flores, ou pedaços de relva, ou borboletas, ou um pĂŽr do Sol proporcionar-lhe-ĂŁo tanta felicidade quanto a que Gautama Buda encontrou na sua iluminação. Isto nĂŁo depende das coisas, mas sim da sua abertura. O conhecimento fecha-o; transforma-se numa cerca, numa prisĂŁo. Mas a inocĂȘncia abre todas as portas e todas as janelas.
O sol entra e uma brisa fresca flui.
De repente, o perfume das flores faz-lhe uma visita.
E de vez em quando um påssaro virå cantar uma canção e entrar por outra janela.
A inocĂȘncia Ă© a Ășnica religiosidade que existe.
A religiosidade nĂŁo depende das escrituras sagradas nem do que se sabe sobre o mundo. SĂł depende de se estar preparado para ser como um espelho lĂ­mpido, que nada reflecte.
Um total silĂȘncio, inocĂȘncia, pureza… e toda a existĂȘncia Ă© transformada para si. Cada momento passa a ser de ĂȘxtase. As pequenas coisas, como beber uma chĂĄvena de chĂĄ, tornam-se oraçÔes tĂŁo poderosas que nenhuma outra oração se lhes pode comparar. Basta observar uma nuvem a mover-se livremente no cĂ©u, e da inocĂȘncia surge uma sincronicidade.

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