A Diferença entre Ficção e Crença
NĂŁo hĂĄ nada mais livre do que a imaginação humana; embora nĂŁo possa ultrapassar o stock primitivo de ideias fornecidas pelos sentidos externos e internos, ela tem poder ilimitado para misturar, combinar, separar e dividir estas ideias em todas as variedades da ficção e da fantasia imaginativa e novelesca. Ela pode inventar uma sĂ©rie de eventos com toda a aparĂȘncia de realidade, pode atribuir-lhes um tempo e um lugar particulares, concebĂȘ-los como existentes e desÂcrevĂȘ-los com todos os pormenores que correspondem a um facto histĂłrico, no qual ela acredita com a mĂĄxima certeza. Em que consiste, pois, a diferença entre tal ficção e a crença?
Ela nĂŁo se localiza simÂplesmente numa ideia particular anexada a uma concepção que obtĂ©m o nosso assentimento, e que nĂŁo se encontra em nenhuma ficção conhecida. Pois, como o espĂrito tem autoridade sobre todas as suas ideias, poderia voluntariamente anexar esta ideia particular a uma ficção e, por conseguinte, seria capaz de acreditar no que lhe agradasse, embora se opondo a tudo que encontramos na experiĂȘncia diĂĄria. PoÂdemos, quando pensamos, juntar a cabeça de um homem ao corpo de um cavalo, mas nĂŁo estĂĄ em nosso poder acreditar que semelhante animal tenha alguma vez existido.
Textos Interrogativos de David Hume
3 resultadosA Frivolidade dos Nossos Anseios de Felicidade
Quando reflectimos sobre a brevidade e a incerteza da vida, quĂŁo desprezĂveis parecem todos os nossos anseios de felicidade? E, mesmo que estendĂȘssemos a nossa atenção para alĂ©m da nossa prĂłpria vida, quĂŁo frĂvolos parecem os nossos projectos mais vastos e generosos quando consideramos as mudanças e revoluçÔes incessantes nos assuntos humanos, por meio das quais as leis e a cultura, os livros e os governos sĂŁo postos de lado apressadamente pelo tempo, como por uma correnteza ligeira, e se perdem no imenso oceano da matĂ©ria? Tal reflexĂŁo seguramente tende a mortificar todas as nossas paixĂ”es.
O Ciclo da Satisfação
Uma satisfação que acabĂĄmos de gozar e cuja lembrança estĂĄ fresca e ainda prĂłxima, age sobre a vontade com mais violĂȘncia do que outra cujos traços estĂŁo atenuados e quase apagados. DonÂde vem isso, portanto, a nĂŁo ser do facto de que a meÂmĂłria, no primeiro caso, secunda a fantasia e dĂĄ Ă s suas concepçÔes um suplemento de força e vigor? A imagem do prazer passado, na sua força e violĂȘncia, confere as suas qualidades Ă ideia do prazer futuro, que lhe estĂĄ vinculado pela semelhança.