Textos sobre Íntimos de Pablo Neruda

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Textos de íntimos de Pablo Neruda. Leia este e outros textos de Pablo Neruda em Poetris.

Somos o Mistério

No fim desta época, como se toda a longa viagem tivesse sido inútil, volto a ficar sozinho nos territórios recém-descobertos. Como na crise do nascimento, como no começo alarmante e alarmado do terror metafísico donde brota o manancial dos meus primeiros versos, como num novo crepúsculo que a minha própria criação provocou, entro numa nova agonia e na segunda solidão. Para onde ir? Para onde regressar, conduzir, calar ou palpitar? Olho para todos os pontos da claridade e da obscuridade e não encontro senão o vazio que as minhas próprias mãos elaboraram com persistência fatal.

Mas o mais próximo, o mais fundamental, o mais extenso, o mais incalculável, não apareceria, afinal, senão neste momento no meu caminho. Tinha pensado em todos os mundos, mas não no homem. Tinha explorado com crueldade e agonia o coração do homem. Sem pensar nos homens, tinha visto cidades, mas cidades vazias. Tinha visto fábricas de trágico aspecto, mas não vira o sofrimento debaixo dos tectos, sobre as ruas, em todas as estações, nas cidades e no campo.

Às primeiras balas que trespassaram as violas de Espanha, quando, em vez de sons, saíram delas borbotões de sangue, a minha poesia deteve-se como um fantasma no meio das ruas da angústia humana e começou a subir por ela uma torrente de raízes e de sangue.

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A Originalidade

Eu não acredito na originalidade. É mais um feitiço na nossa época de vertiginoso desmoronamento. Creio na personalidade através de qualquer linguagem, de qualquer forma, de qualquer sentido da criação artística. Mas a originalidade delirante é uma invenção moderna e um vigário eleitoral. Não falta quem queira fazer-se eleger Primeiro Poeta do seu país, da sua língua ou do mundo. Correm, então, em busca de eleitores, insultam quem aparente possibilidades de lhes disputar o ceptro e, desse modo, a poesia transforma-se numa mascarada. No entanto, é essencial conservar a direcção íntima, manter o controlo do crescimento que a natureza, a cultura e a vida social asseguram ao desenvolvimento das excelências do poeta.