Textos sobre Isolamento de VergĂ­lio Ferreira

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Textos de isolamento de VergĂ­lio Ferreira. Leia este e outros textos de VergĂ­lio Ferreira em Poetris.

O Homem NĂŁo Ă© o IndivĂ­duo

«NĂŁo Ă© a arranhar interminavelmente o indivĂ­duo que acabamos por encontrar o homem» – diz alguĂ©m em certo livro do Malraux. Nada, de facto, mais Ăștil que a separação dos dois conceitos, que tanto tendem a confundir-se, mormente hoje, em que tal confusĂŁo parece agravar-se. Com efeito, o «homem» nĂŁo Ă© o «indivĂ­duo», porque Ă© sĂł do indivĂ­duo aquela parte que pode universalizar-se. E Ă© desta ideia que temos de partir para que um equĂ­voco se nĂŁo consuma, o equĂ­voco de um individualismo, de um pessoalismo restrito que a arte e o pensamento modernos parecem Ă  primeira vista aceitar.
Que estranho «eu» Ă© pois este que de algum modo dir-se-ia predominar na filosofia e na literatura de hoje? Porque Ă© evidente que uma forte tendĂȘncia da arte de hoje, do homem actual, apela para a comunicabilidade, para uma fraternidade, e nĂŁo para um estĂ©ril isolamento. Mas acontece que nesse apelo muitas vezes se esquece o que hĂĄ aĂ­ de mecĂąnico, de superficial, de relaçÔes externas, imediatas, provisĂłrias, que nos nĂŁo satisfaz inteiramente. O homem que aĂ­ fala Ă© o que se ensurdece a si prĂłprio, Ă s suas vozes profundas, aos avisos que se anunciam desde o limiar da solidĂŁo.

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A Dificuldade de Estabelecer e Firmar RelaçÔes

A dificuldade de estabelecer e firmar relaçÔes. HĂĄ uma tĂ©cnica para isso, conheço-a. Nunca pude meter-me nela. Ser «simpĂĄtico». É realmente fĂĄcil: prestabilidade, autodomĂ­nio. Mas. Ser sociĂĄvel exige um esforço enorme — fĂ­sico. Quem se habituou, jĂĄ se nĂŁo cansa. Tudo se passa Ă  superfĂ­cie do esforço. Ter «personalidade»: nĂŁo descer um milĂ­metro no trato, mesmo quando por delicadeza se finge. Assumirmos a importĂąncia de nĂłs sem o mostrar. Darmo-nos valor sem o exibir. Irresistivelmente, agacho-me. E logo: a pata dos outros em cima. Bem feito. Pois se me pus a jeito. E entĂŁo reponto. O fim. Ser prestĂĄvel, colaborar nas tarefas que os outros nos inventam. ColĂłquios, conferĂȘncias, organizaçÔes de. Ah, ser-se um «inĂștil» (um «parasita»…). RazĂ”es profundas — um complexo duplo que vem da juventude: incompreensĂŁo do irmĂŁo corpo e da bolsa paterna. O segundo remediou-se. Tenho desprezo pelo dinheiro. Ligo tĂŁo pouco ao dinheiro que nem o gasto… Mas «gastar» faz parte da «personalidade». SaĂșde — mais difĂ­cil. Este ar apeurĂ© que vem logo ao de cima. A Ășnica defesa, obviamente, Ă© o resguardo, o isolamento, a medida.
É fĂĄcil ser «simpĂĄtico», difĂ­cil Ă© perseverar, assumir o artifĂ­cio da facilidade. Conservar os amigos. «NĂŁo Ă©s capaz de dar nada»,

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A Voz do SilĂȘncio

A pessoa que sou Ă© Ășnica, limitada a um nascer e a um morrer, presente a si mesma e que sĂł Ă  sua face Ă© verdadeira, Ă© autĂȘntica, decide em verdade a autenticidade de tudo quanto realizar. Assim a sua solidĂŁo, que persiste sempre talvez como pano de fundo em toda a comunicação, em toda a comunhĂŁo, nĂŁo Ă© ‘isolamento’. Porque o isolamento implica um corte com os outros; a solidĂŁo implica apenas que toda a voz que a exprima nĂŁo Ă© puramente uma voz da rua, mas uma voz que ressoa no silĂȘncio final, uma voz que fala do mais fundo de si, que estĂĄ certa entre os homens como em face do homem sĂł. O isolamento corta com os homens: a solidĂŁo nĂŁo corta com o homem. A voz da solidĂŁo difere da voz fĂĄcil da fraternidade fĂĄcil em ser mais profunda e em estar prevenida.