O Mal e o Bem em Função da Vaidade

É raro o mal, de que nĂŁo venha a nascer algum bem, nem bem, que nĂŁo produza algum mal: como sĂł o presente Ă© nosso, por isso nĂŁo nos serve de alĂ­vio o bem futuro, nem nos inquieta o mal que ainda nĂŁo sentimos; um infeliz nĂŁo se persuade, que a sua sorte possa ter mudança; um venturoso nĂŁo crĂȘ, que possa deixar de o ser; a este a vaidade tira o menor receio; Ă quele o abatimento priva de esperança. Se fizermos reflexĂŁo, havemos de admirar o pouco que basta para fazer o nosso bem, ou o nosso mal: de um instante a outro mudamos da alegria para a tristeza, e muitas vezes sem outro algum motivo, que o de uma vaidade mais, ou menos satisfeita.
Os homens nĂŁo sĂŁo todos igualmente sensĂ­veis ao bem, e ao mal; a uns penetra mais vivamente a dor, a outros sĂł faz uma impressĂŁo ligeira; o bem nĂŁo acha em todos o mesmo grau de contentamento. Nas almas deve de haver a mesma diferença, que hĂĄ nos corpos: umas mais dĂ©beis, e outras mais robustas; por isso em umas obra mais o sentimento, e acha mais resistĂȘncia em outras; em umas domina a vaidade com impĂ©rio,

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