A Cultura nĂŁo se Enquadra na Totalidade PolĂtica
A cultura nunca poderĂĄ ser um factor estratĂ©gico de mudança. Se Ă© estratĂ©gia, nĂŁo Ă© cultura. Faz-se apelo Ă cultura como estratĂ©gia de mudança, tentando resolver a condição perturbadora do homem culto, munido de culpabilidade inconsciente, ou simplesmente isento da culpabilidade pelo sofrimento. Isso nĂŁo Ă© possĂvel. A cultura nĂŁo se enquadra na totalidade polĂtica. HĂĄ um grave mal-entendido quanto a isso. A cultura nĂŁo significa o conforto da neutralidade, a irĂłnica graduação da expectativa, a ginĂĄstica do nĂŁo-compomisso. Significa um enraizamento em si mesmo, que conserva no homem a faculdade de julgar. NĂŁo Ă© contrĂĄria Ă acção, mas Ă© condição necessĂĄria para que a acção seja serena e Ăștil, e nĂŁo impaciente e desordenada. NĂŁo se trata de racismo espiritual; nĂŁo se trata da pretensĂŁo de existir Ă parte da histĂłria polĂtica do mundo. Ă a intenção absolutamente necessĂĄria de ser livre, face aos acontecimentos, qualquer que seja a lĂłgica que os liga. A cultura Ă© o que identifica um povo com a sua finalidade.
Textos sobre Perturbadores de Agustina Bessa-LuĂs
2 resultadosA CrĂtica Ă© Menos Eficaz do que o Exemplo
A crĂtica Ă© menos eficaz do que o exemplo. Ă de considerar se a grande sugestĂŁo para usar da crĂtica nos nossos tempos e que pĂ”e em causa todos os valores consagrados, nĂŁo Ă© o resultado duma anemia profunda do acto de vontade de toda uma sociedade. Todos temos consciĂȘncia de como o exemplo se tornou interdito, como o indivĂduo, na sua excepção perturbadora, Ă© causa de mal-estar. Dir-se-ia que a fraqueza, a breve virtude, a mediocridade, de interesses e de condiçÔes, tĂȘm prioridade sobre o modelo e a utopia. A par desta dimensĂŁo rasa do despotismo do demĂ©rito, levanta-se uma rajada de violĂȘncia. Ă de crer que a violĂȘncia Ă© hoje a linguagem bastarda da desilusĂŁo e o reverso do exemplo; representa a frustração do exemplo.