As Vantagens de se Ser um Pobre-Diabo
Para aquele que nĂŁo Ă© nobre, mas dotado de algum talento, ser um pobre-diabo Ă© uma verdadeira vantagem e uma recomendação. Pois o que cada um mais procura e aprecia, nĂŁo apenas na simples conversação, mas sobretudo no serviço pĂșblico, Ă© a inferioridade do outro. Ora, sĂł um pobre-diabo estĂĄ convencido e compenetrado em grau suficiente da sua completa, profunda, decisiva, total inferioridade e da sua plena insignificĂąncia e ausĂȘncia de valor, tal como exige o caso. Apenas ele, portanto, inclina-se amiĂșde e por bastante tempo, e apenas a sua reverĂȘncia atinge plenos noventa graus; apenas ele suporta tudo e ainda sorri; apenas ele conhece como obras-primas, em pĂșblico, em voz alta ou em grandes caracteres, as inĂ©pcias literĂĄrias dos seus superiores ou dos homens influentes em geral; apenas ele sabe como mendigar; por conseguinte, apenas ele se pode tornar um iniciado, a tempo, portanto, na juventude, naquela verdade oculta que Goethe nos revelou nos seguintes termos:
Sobre a baixeza
Que ninguém se lamente:
Pois ela Ă© a potĂȘncia,
NĂŁo importa o que te digam.
Em contrapartida, quem jĂĄ nasceu com uma fortuna que lhe garanta a existĂȘncia irĂĄ posicionar-se, na maioria das vezes,
Textos sobre PotĂȘncia de Arthur Schopenhauer
2 resultadosOs Livros Representam a EssĂȘncia de um EspĂrito
As obras sĂŁo a quintessĂȘncia de um espĂrito: por conseguinte, mesmo se este for o espĂrito mais sublime, elas sempre serĂŁo, sem comparação, mais ricas de contĂșdo do que a sua companhia, e a substituirĂŁo tambĂ©m na essĂȘncia – ou melhor, ultrapassĂĄ-la-ĂŁo em muito e a deixarĂŁo para trĂĄs: AtĂ© mesmo os escritos de uma cabeça medĂocre podem ser instrutivos, dignos de leitura e divertidos, justamente porque sĂŁo sua quintessĂȘncia, o resultado, o fruto de todo o seu pensamento e estudo; enquanto a sua companhia nĂŁo nos consegue satisfazer. Sendo assim, podem-se ler livros de pessoas em cujas companhias nĂŁo se encontraria nenhum prazer, e Ă© por essa razĂŁo que uma cultura intelectual elevada nos induz pouco a pouco a encontrar o nosso prazer quase exclusivamente na leitura dos livros, e nĂŁo na conversa com as pessoas.
NĂŁo hĂĄ maior refrigĂ©rio para o espĂrito do que a leitura dos clĂĄssicos antigos: tĂŁo logo temos um deles nas mĂŁos, e mesmo que seja por apenas meia hora, sentimo-nos imdediatamente refrescados, aliviados, purificados, elevados e fortalecidos; como se nos tivĂ©ssemos deleitado na fonte fresca de uma rocha. Tal facto depende das lĂnguas antigas e da sua perfeição ou da grandeza dos espĂritos,