A Causa da Vontade
A nossa vida nĂŁo passaria de uma sĂ©rie de caprichos, se a nossa vontade se determinasse por si mesma e sem motivos. NĂŁo temos vontade que nĂŁo seja produzida por alguma reflexĂŁo ou por alguma paixĂŁo. Quando levanto a mĂŁo, Ă© para fazer uma experiĂȘncia com a minha liberdade ou por alguma outra razĂŁo. Quando me propĂ”em um jogo de escolha entre par ou Ămpar, durante o tempo em que as ideias de um e de outro se sucedem no meu espĂrito com rapidez, mescladas de esperança e temor, se escolho par, Ă© porque a necessidade de fazer uma escolha se apresenta ao meu pensamento no momento em que par estĂĄ aĂ presente. Proponha-se o exemplo que se quiser, demonstrarei a qualquer homem de boa-fĂ© que nĂŁo temos nenhuma vontade que nĂŁo seja precedida por algum sentimento ou por algum arrazoado que a faz nascer. Ă verdade que a vontade tem tambĂ©m o poder de excitar as nossas ideias; mas Ă© necessĂĄrio que ela prĂłpria seja antes determinada por alguma causa.
A vontade nĂŁo Ă© nunca o primeiro princĂpio das nossas acçÔes, ela Ă© o seu Ășltimo mĂłbil; Ă© o ponteiro que marca as horas num relĂłgio e que o leva a dar as pancadas sonoras.
Textos sobre PrincĂpio de MarquĂȘs de Vauvenargues
3 resultadosO Excesso de Conhecimento sem Discernimento
Herdamos conhecimentos e invençÔes de todos os sĂ©culos; ficamos portanto mais ricos em bens do espĂrito: isso nĂŁo nos pode ser contestado sem injustiça. Mas estarĂamos nĂłs prĂłprios enganados se confundĂssemos essa riqueza herdada e de emprĂ©stimo com o gĂ©nio que a dĂĄ. Quantos desses conhecimentos adquiridos sĂŁo estĂ©reis para nĂłs! Estranhos no nosso espĂrito onde nĂŁo tiveram origem, acontece muitas vezes que eles confundem o nosso juĂzo muito mais do que o esclarecem. Arcamos sob o peso de tantas ideias, como aqueles estados que sucumbem por excesso de conquistas e em que a opulĂȘncia introduz novos vĂcios e desordens mais terrĂveis; porque pouca gente Ă© capaz de fazer bom uso do espĂrito alheio.
(…) O efeito das opiniĂ”es multiplicadas alĂ©m das forças do espĂrito Ă© produzir contradiçÔes e abalar a certeza dos melhores princĂpios. Os objectos apresentados sob um nĂșmero excessivo de faces nĂŁo se podem organizar, nem desenvolver, nem pintar distintamente na imaginação dos homens. Incapazes de conciliar todas as suas ideias, tomam os diversos lados de uma mesma coisa como contradiçÔes da sua natureza. VĂĄrios nĂŁo querem comparar a opiniĂŁo dos filĂłsofos. NĂŁo examinam se na oposição dos seus princĂpios, alguĂ©m fez pender a balança para o seu lado;
Da Profundidade do EspĂrito
A profundeza Ă© o termo da reflexĂŁo. Quem quer que tenha o espĂrito verdadeiramente profundo, deve ter a força de fixar o pensamento fugidio; de retĂȘ-lo sob os olhos para considerar-lhe o fundo, e reduzir a um ponto uma longa cadeia de ideias; Ă© principalmente Ă queles a quem esse espĂrito foi dado que a clareza e a justeza sĂŁo necessĂĄrias. Quando lhes faltam essas vantagens, as suas vistas ficam embaraçadas com ilusĂ”es e cobertas de obscuridades. No entanto, como tais espĂritos vĂȘem sempre mais longe do que os outros nas coisas da sua alçada, julgam-se tambĂ©m mais prĂłximos da verdade do que os demais homens; mas estes, nĂŁo os podendo seguir nas suas sendas tenebrosas, nem remontar das consequĂȘncias atĂ© a altura dos princĂpios, sĂŁo frios e desdenhosos para com esse tipo de espĂrito que nĂŁo podem mensurar.
E, mesmo entre as pessoas profundas, como algumas o sĂŁo em relação Ă s coisas do mundo e outras nas ciĂȘncias ou numa arte particular, preferindo cada qual o objecto cujos usos melhor conhece, isso tambĂ©m Ă©, de todos os lados, matĂ©ria de dissensĂŁo.
Finalmente, nota-se um ciĂșme ainda mais particular entre os espĂritos vivazes e os espĂritos profundos, que sĂł possuem um na falta do outro;