Textos sobre PrincĂ­pio de MarquĂȘs de Vauvenargues

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Textos de princĂ­pio de MarquĂȘs de Vauvenargues. Leia este e outros textos de MarquĂȘs de Vauvenargues em Poetris.

A Causa da Vontade

A nossa vida nĂŁo passaria de uma sĂ©rie de caprichos, se a nossa vontade se determinasse por si mesma e sem motivos. NĂŁo temos vontade que nĂŁo seja produzida por alguma reflexĂŁo ou por alguma paixĂŁo. Quando levanto a mĂŁo, Ă© para fazer uma experiĂȘncia com a minha liberdade ou por alguma outra razĂŁo. Quando me propĂ”em um jogo de escolha entre par ou Ă­mpar, durante o tempo em que as ideias de um e de outro se sucedem no meu espĂ­rito com rapidez, mescladas de esperança e temor, se escolho par, Ă© porque a necessidade de fazer uma escolha se apresenta ao meu pensamento no momento em que par estĂĄ aĂ­ presente. Proponha-se o exemplo que se quiser, demonstrarei a qualquer homem de boa-fĂ© que nĂŁo temos nenhuma vontade que nĂŁo seja precedida por algum sentimento ou por algum arrazoado que a faz nascer. É verdade que a vontade tem tambĂ©m o poder de excitar as nossas ideias; mas Ă© necessĂĄrio que ela prĂłpria seja antes determinada por alguma causa.
A vontade nĂŁo Ă© nunca o primeiro princĂ­pio das nossas acçÔes, ela Ă© o seu Ășltimo mĂłbil; Ă© o ponteiro que marca as horas num relĂłgio e que o leva a dar as pancadas sonoras.

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O Excesso de Conhecimento sem Discernimento

Herdamos conhecimentos e invençÔes de todos os sĂ©culos; ficamos portanto mais ricos em bens do espĂ­rito: isso nĂŁo nos pode ser contestado sem injustiça. Mas estarĂ­amos nĂłs prĂłprios enganados se confundĂ­ssemos essa riqueza herdada e de emprĂ©stimo com o gĂ©nio que a dĂĄ. Quantos desses conhecimentos adquiridos sĂŁo estĂ©reis para nĂłs! Estranhos no nosso espĂ­rito onde nĂŁo tiveram origem, acontece muitas vezes que eles confundem o nosso juĂ­zo muito mais do que o esclarecem. Arcamos sob o peso de tantas ideias, como aqueles estados que sucumbem por excesso de conquistas e em que a opulĂȘncia introduz novos vĂ­cios e desordens mais terrĂ­veis; porque pouca gente Ă© capaz de fazer bom uso do espĂ­rito alheio.
(…) O efeito das opiniĂ”es multiplicadas alĂ©m das forças do espĂ­rito Ă© produzir contradiçÔes e abalar a certeza dos melhores princĂ­pios. Os objectos apresentados sob um nĂșmero excessivo de faces nĂŁo se podem organizar, nem desenvolver, nem pintar distintamente na imaginação dos homens. Incapazes de conciliar todas as suas ideias, tomam os diversos lados de uma mesma coisa como contradiçÔes da sua natureza. VĂĄrios nĂŁo querem comparar a opiniĂŁo dos filĂłsofos. NĂŁo examinam se na oposição dos seus princĂ­pios, alguĂ©m fez pender a balança para o seu lado;

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Da Profundidade do EspĂ­rito

A profundeza Ă© o termo da reflexĂŁo. Quem quer que tenha o espĂ­rito verdadeiramente profundo, deve ter a força de fixar o pensamento fugidio; de retĂȘ-lo sob os olhos para considerar-lhe o fundo, e reduzir a um ponto uma longa cadeia de ideias; Ă© principalmente Ă queles a quem esse espĂ­rito foi dado que a clareza e a justeza sĂŁo necessĂĄrias. Quando lhes faltam essas vantagens, as suas vistas ficam embaraçadas com ilusĂ”es e cobertas de obscuridades. No entanto, como tais espĂ­ritos vĂȘem sempre mais longe do que os outros nas coisas da sua alçada, julgam-se tambĂ©m mais prĂłximos da verdade do que os demais homens; mas estes, nĂŁo os podendo seguir nas suas sendas tenebrosas, nem remontar das consequĂȘncias atĂ© a altura dos princĂ­pios, sĂŁo frios e desdenhosos para com esse tipo de espĂ­rito que nĂŁo podem mensurar.
E, mesmo entre as pessoas profundas, como algumas o sĂŁo em relação Ă s coisas do mundo e outras nas ciĂȘncias ou numa arte particular, preferindo cada qual o objecto cujos usos melhor conhece, isso tambĂ©m Ă©, de todos os lados, matĂ©ria de dissensĂŁo.
Finalmente, nota-se um ciĂșme ainda mais particular entre os espĂ­ritos vivazes e os espĂ­ritos profundos, que sĂł possuem um na falta do outro;

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