Textos sobre Querer de Arthur Schopenhauer

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Textos de querer de Arthur Schopenhauer. Leia este e outros textos de Arthur Schopenhauer em Poetris.

Pensar Com Cabeça Alheia

Ler significa pensar com cabeça alheia em vez de pensar com a própria. O furor que a maioria dos eruditos sente ao ler constitui uma espécie de fuga vacui do vazio de pensamentos da sua própria cabeça, que faz força para atrair para dentro de si o que lhe é estranho: para terem pensamentos, precisam de aprender nos livros da mesma forma que os corpos inanimados recebem movimento apenas do exterior, enquanto os dotados de pensamento próprio são como os corpos vivos, que se movem por si mesmos.
Em relação à nossa leitura, a arte de não ler é extremamente importante. Ela consiste em não aceitar o que o público mais amplo sempre lê, como planfletos políticos ou literários, romances, poesias e similares, que só fazem rumor naquele momento e até atingem muitas edições no seu primeiro e último ano de vida.
Exigir que um indivíduo conserve na sua mente tudo o que já leu é como querer que ele ainda traga dentro de si tudo o que já comeu na vida.

A Infelicidade da Juventude

O que faz da juventude um período infeliz é a caça à felicidade, na firme pressuposição de que ela tem de ser encontrada na existência. Disso resulta a esperança sempre malograda e, desta, o descontentamento. Imagens enganosas de uma vaga felicidade onírica pairam perante nós revestidas de formas caprichosamente escolhidas, fazendo-nos procurar em vão o seu original. Por isso, nos anos da juventude, estamos quase sempre descontentes com a nossa situação e o nosso ambiente, não importando quais sejam; porque lhes atribuímos o que na verdade pertence, em toda a parte, à vacuidade e à indigência da vida humana, com as quais só então travamos o primeiro conhecimento, após termos esperado coisas bem diversas. Ganhar-se-ia bastante se, pela instrução em tempo apropriado, fosse erradicada nos jovens a ilusão de que há muito a encontrar no mundo. Porém, é o contrário que acontece: na maioria das vezes, conhecemos a vida primeiro pela poesia, e depois pela realidade.
Na aurora da nossa juventude, as cenas descritas pela poesia resplandecem diante dos nossos olhos, e o anelo atormenta-nos para vê-las realizadas, a tocar o arco-íris. O jovem espera que o curso da sua vida se dê na forma de um romance interessante.

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Façam a Barba, Meus Senhores!

A barba, por ser quase uma máscara, deveria ser proibida pela polícia. Além disso, enquanto distintivo do sexo no meio do rosto, ela é obscena: por isso é apreciada pelas mulheres.
Dizem que a barba é natural ao homem: não há dúvida, e por isso ela é perfeitamente adequada ao homem no estado natural; do mesmo modo, porém, no estado civilizado é natural ao homem fazer a barba, uma vez que assim ele demonstra que a brutal violência animalesca – cujo emblema, percebido imediatamente por todos, é aquela excrescência de pêlos, característica do sexo masculino – teve de ceder à lei, à ordem e à civilização.
A barba aumenta a parte animalesca do rosto e ressalta-a. Por essa razão, confere-lhe um aspecto brutal tão evidente. Basta observar um homem barbudo de perfil enquanto ele come! Este pretende que a barba seja um ornamento. No entanto, há duzentos anos era comum ver esse ornamento apenas em judeus, cossacos, capuchinhos, prisioneiros e ladrões. A ferocidade e a atrocidade que a barba confere à fisionomia dependem do facto de que uma massa respectivamente sem vida ocupa metade do rosto, e justamente aquela que expressa a moral. Além disso, todo o tipo de pêlo é animalesco.

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Mais Vale ser Estimado que Amado

Rochefoucauld observou de maneira pertinente que é difícil, ao mesmo tempo, ter em alta estima e amar muito a mesma pessoa. Teríamos, então, de escolher entre querer ganhar o amor ou a estima dos homens. O seu amor é sempre interesseiro, embora de maneiras bem diversas. Além do mais, a condição que nos permite conquistá-lo nem sempre é apropriada para nos orgulharmos. Antes de mais nada, uma pessoa é tanto mais amada quanto mais moderar as suas expectativas em relação ao espírito e ao coração dos outros; e tudo isso a sério, sem fingimento, e não apenas devido à indulgência enraizada no desprezo. Recordemos aqui o dito verdadeiro de Helvécio: «O grau de espírito necessário para nos agradar é uma medida bastante exacta do grau de espírito que possuímos». E assim chegamos à conclusão iniciada pelas premissas. Por outro lado, quando se trata da estima dos homens, dá-se o contrário: esta só lhes é arrancada contra a vontade; por isso, na maioria das vezes é ocultada. Desse modo, ela proporciona-nos uma satisfação interior bem maior, pois está relacionada ao nosso valor, o que não vale imediatamente para o amor dos homens, já que este é subjectivo, enquanto a estima é objectiva.

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A Universalidade de uma Opinião

A universalidade de uma opinião, tomada seriamente, não constitui nem uma prova, nem um fundamento provável, da sua exactidão. Aqueles que a afirmam devem considerar que: 1) o distanciamento no tempo rouba a força comprobatória dessa universalidade; caso contrário, precisariam de evocar todos os antigos equívocos que alguma vez foram universalmente considerados verdade: por exemplo, estabelecer o sistema ptolemaico ou o catolicismo em todos os países protestantes; 2) o distanciamento no espaço tem o mesmo efeito: caso contrário, a universalidade de opinião entre os que confessam o budismo, o cristianismo e o islamismo os constrangerá.
O que então se chama de opinião geral é, a bem da verdade, a opinião de duas ou três pessoas; e disso nos convenceríamos se pudéssemos testemunhar como se forma tal opinião universalmente válida.
Acharíamos então que foram duas ou três pessoas a supor ou apresentar e a afirmar num primeiro momento, e que alguém teve a bondade de julgar que elas teriam verificado realmente a fundo tais colocações: o preconceito de que estes seriam suficientemente capazes induziu, em princípio, alguns a aceitar a mesma opinião: nestes, por sua vez, acreditaram muitos outros, aos quais a própria indolência aconselhou: melhor acreditar logo do que fazer controles trabalhosos.

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A Tragédia e Comédia da Vida

A vida é um mar repleto de rochedos e turbilhões, que o homem evita com a máxima precaução e cautela, embora saiba que, quando consegue insinuar-se por eles como todo o esforço e arte, justamente por isso acaba por se aproximar e até mesmo se dirigir para o seu naufrágio maior, total, inevitável e irremediável, a morte: esta é o objectivo final da penosa viagem e, para ele, o pior de todos os rochedos dos quais se desviou.
A vida de todo o ser humano flui inteiramene entre o querer e o conseguir. O desejo, conforme a sua natureza, é dor: alcançá-lo significa gerar rapidamente a saciedade. O objectivo era apenas aparente; a posse tira o encanto; o desejo e a necessidade reapresentam-se com um novo aspecto. Quando isso não ocorre, seguem-se a solidão, o vazio e o tédio, contra os quais a luta atormenta tanto quanto contra a miséria.

Quando se observa a vida de cada indivíduo de modo geral, destacando apenas os seus traços mais significativos, percebe-se que ela não passa de uma tragédia; porém, se examinada nos seus detalhes, tem o carácter da comédia.

O Efeito do Tempo e a Mutabilidade das Coisas

Deveríamos ter sempre diante dos olhos o efeito do tempo e a mutabilidade das coisas, por conseguinte, em tudo o que acontece no momento presente, imaginar de imediato o contrário, portanto, evocar vivamente a infelicidade na felicidade, a inimizade na amizade, o clima ruim no bom, o ódio no amor, a traição e o arrependimento na confiança e na franqueza e vice-versa. Isso seria uma fonte inesgotável de verdadeira prudência para o mundo, na medida em que permaneceríamos sempre precavidos e não seríamos enganados tão facilmente. Na maioria das vezes, teríamos apenas antecipado a acção do tempo. Talvez para nenhum tipo de conhecimento a experiência seja tão imprescindível quanto na avaliação justa da inconstância e mudança das coisas. Ora, como cada estado, pelo tempo da sua duração, existe necessariamente e, portanto, com pleno direito, cada ano, cada mês, cada dia parecem querer conservar o direito de existir por toda a eternidade. Mas nada conserva esse direito, e só a mudança é permanente.
Prudente é quem não é enganado pela estabilidade aparente das coisas e, ainda, antevê a direcção que a mudança tomará. Por outro lado, o que via de regra faz os homens tomarem o estado provisório das coisas ou a direcção do seu curso como permamente é o facto de terem os efeitos diante dos olhos,

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