Coragem Aparente
O soldado está convencido de que tem diante de si um espaço de tempo infinitamente adiável antes que o matem; o ladrão, antes que o prendam; o homem, em geral, antes que o arrebate a morte. Esse é o amuleto que preserva os indivíduos – e às vezes os povos – não do perigo, mas do medo ao perigo; na verdade, da crença no perigo, motivo pelo qual o desafiam em certos casos, sem que sejam necessariamente bravos.
Passagens sobre Ladrões
124 resultadosFelicidades é só para bêbados e ladrões.
Tudo o que Somos é Ficção
Há que entender que tudo o que somos é ficção.
Pessoas atrás de pessoas pedem-me conselhos. Acreditam que o que escrevo me torna em alguém especial, capaz de lhes entender o que fazem, o que sentem, até o que escrevem. Fico perdido, sem saber o que fazer, sem saber o que dizer. E é por isso que escrevo. Escrever é estar perdido e procurar, a cada frase, um caminho. Ou um simples sinal de que pode haver um caminho, de que pode haver uma esperança. Escrever é procurar a esperança, todos os dias, no que não existe, no que se escreve para ver se existe. Não sou escritor, nunca fui escritor, não quero ser escritor. Sou apenas o gajo que escreve porque tem de escrever, porque os dias exigem que escreva, porque uma urgência qualquer o obriga a escrever. Escrevo como necessidade biológica, e às vezes custa tanto ter de escrever. Não dói mas custa, é uma dor de fora para dentro, como se as letras saíssem da pele, do por dentro dos ossos. E a literatura. O que raios é a literatura? Estou-me nas tintas para a literatura. Não quero escrever literatura, não quero os intelectuais do meu lado.
O homem roubado, que sorri, rouba alguma coisa do ladrão.
Fazer do ladrão fiel, é parvoíce.
Todo aquele que possui coisas que não precisa é um ladrão.
Estar Sozinho
Tornei-me um homem da multidão. Nunca confiei em mim próprio o bastante para estar sozinho. Dia e noite caminhava lestamente através das multidões, acotovelando, agarrando-me ansioso a quem pudesse. Muitos pensavam que eu era ladrão. Mas comprimia o meu corpo contra o corpo dos outros como uma criança se agarra à mãe durante uma tempestade. Procurava tapar os olhos à minha consciência como uma criança procura não avistar o relâmpago; esforçava-me por tapar os meus ouvidos mentais, como uma criança procura esconder-se no regaço da mãe para não ouvir o som dos trovões. E se houvesse uma clareira nessa multidão, apressava-me, corria, os braços esticados, ansioso pelo toque do corpo de alguém, o meu próprio corpo ansioso pelo contacto fugaz. E sempre, sempre, entre a confusão e o ruído das passadas, tremia a ouvir esses passos constantes, inexoráveis.
O roubado que ri furta algo ao seu ladrão.
A Fevereiro e ao rapaz perdoa tudo quanto faz, se Fevereiro não for secalhão e o rapaz não for ladrão.
Da luz apenas fogem os escaravelhos, os ladrões e os ignorantes.
Ladrão que não é apanhado, passa por homem honrado.
Divisamos assim o Adolescente
Divisamos assim o adolescente,
A rir, desnudo, em praias impolutas.
Amado por um fauno sem presente
E sem passado, eternas prostitutas
Velam por seu sono. Assim, pendente
O rosto sobre um ombro, pelas grutas
Do tempo o contemplamos, refulgente
Segredo de uma concha sem volutas.
Infância e madureza o cortejavam,
Velhice vigilante o protegia.
E loucos e ladrões acalentavam
Seu sonho suave, até que um deus fendia
O céu, buscando arrebata-lo, enquanto
Durasse ainda aquele breve encanto.
Para ladrão, ladrão e meio.
Ser médico é uma tarefa ingrata. Quando é pago pelos ricos, corre o risco de ser considerado como um criado, quando é pago pelos pobres, um ladrão.
Simplicidade Extrema
Põe de lado os estudos e não conhecerás o sofrimento. Põe de lado a erudição e afasta a sabedoria e o povo será cem vezes mais beneficiado. Põe de lado a benevolência e afasta a rectidão e o povo te pagará com dever filial e amor fraternal. Põe de lado o artifício e afasta o lucro e não haverá mais bandoleiros e ladrões. Mantém-te na simplicidade, restringe o egoísmo e refreia os desejos.
No fundo, um escritor é um bocado um ladrão, um gatuno de sentimentos, de emoções, de rostos, de situações.
Último Credo
Como ama o homem adúltero o adultério
E o ébrio a garrafa tóxica de rum,
Amo o coveiro este ladrão comum
Que arrasta a gente para o cemitério!É o transcendentalíssimo mistério!
É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número Um,
Que matou Cristo e que matou Tibério.Creio como o filósofo mais crente,
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolue…Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanhã vença
O homem particular que eu ontem fui!
Sei que pareço um ladrão
Mas há muitos que eu conheço
que, sem parecer que o são,
são aquilo que eu pareço.
O homem que rouba a confiança do outro é o pior dos ladrões.
As citações, no meu trabalho, são como ladrões à beira da estrada, que irrompem armados e arrebatam o consciente do ocioso viajante.