Esse privilégio de sentir-se em casa em qualquer lugar pertence apenas aos reis, às prostitutas e aos ladrões.
Passagens sobre Ladrões
124 resultadosCoragem de ladrĂŁo Ă© maldade.
Saber Estar
És impaciente e difĂcil de contentar. Se estás sĂł, queixas-te da solidĂŁo; se na companhia dos outros, tu os chamas de conspiradores e de ladrões, e achas defeitos nos teus prĂłprios pais, filhos, irmĂŁos e vizinhos. No entanto, quando estás sozinho, deves falar em tranquilidade e liberdade e te considerares igual aos deuses. E quando estás em companhia numerosa, nĂŁo a deves chamar de turba aborrecida ou ruidosa, mas de assembleia e tribunal, dessarte aceitando tudo com contentamento.
Não há ladrão sem encobridor.
TĂŁo ladrĂŁo Ă© o que rouba como o que consente.
Desde que se cumpram certas cerimĂłnias ou se respeitem certas fĂłrmulas, consegue-se ser ladrĂŁo e escrupulosamente honesto – tudo ao mesmo tempo. A honradez deste homem assenta sobre uma primitiva infâmia. O interesse e a religiĂŁo, a ganância e o escrĂşpulo, a honra e o interesse, podem viver na mesma casa, separados por tabiques. Agora Ă© a vez da honra – agora Ă© a vez do dinheiro – agora Ă© a vez da religiĂŁo. Tudo se acomoda, outras coisas heterogĂ©neas se acomodam ainda. Com um bocado de jeito arranja-se-lhes sempre lugar nas almas bem formadas.
O ato de pagar talvez seja o castigo mais desagradável que os dois ladrões de pomar nos legaram.
O Teu Amor, Bem Sei
o teu amor, bem sei, Ă© uma palavra musical,
espalha-se por todos nós com a mesma ignorância,
o mesmo ar alheio com que fazes girar, suponho, os epiciclos;
ergues os ombros e dizes, hoje, amanhĂŁ, nunca mais,
surpreende o vigor, a plenitude
das coxas masculinas, habituadas ao cansaço,
separamo-nos, Ă procura de sinais mais fixos,
e o circuito das chamas recomeça.Ă© um paĂs subtil, o olho franco das mulheres,
há nos passeios garrafas com leite apenas cinzento,
os teus pais disseram: o melhor de tudo Ă© ser engenheiro,
morrer de casaco, com todas as pirâmides acesas,
viajar de navio de buenos aires a montevideu.
esta Ă© a viagem que nĂŁo faremos nunca, soltos
na minuciosa tarde dos lábios,
ágil pobreza.permanentemente floresce o horizonte em colinas,
os animais olham por dentro, cheios de vazio,
como um ladrĂŁo de pouca perĂcia a luz
desfaz devagarmente os corpos.
ele exclama: quando me libertarás da tosca voz dormida,
para que seja
alto e altivo o coração da coisas? até quando aguardarei,
no harmonioso beliche, que a tua visĂŁo cesse?
LadrĂŁo: nome vulgar para um indivĂduo com sucesso em obter a propriedade dos outros.
NĂŁo Existe Prosa
NĂŁo existe prosa. A menos que se refiram os escritos, em prosa ou verso, que pretendem ensinar. NĂŁo há nada a ensinar embora haja tudo a aprender. Aquilo que se aprende vem do nosso prĂłprio ensino, vem da pergunta; vĂŁo-se aprendendo, pelas esperas, pela imobilidade Ă s portas, pela invisibilidade dos rostos depois de vistos tĂŁo prometedoramente, pela emenda sucessiva, pela insĂłnia sucessiva dos olhos e das figurações, sempre, vĂŁo-se aprendendo sempre as maneiras da pergunta. Uma pergunta em perguntas, um poema em poemas, uma rebarbativa constelação de objectos ofuscantes. Aprende-se que a pergunta se desloca com a luz inerente; ilumina-se a si mesma, a pergunta constelar; ensina a si mesma, ao longo de si mesma, os estilos de ser dotada dessa luz para fora e para dentro. Leio romances desde que perceba que nĂŁo estĂŁo a responder. Alguns sĂŁo extraordinárias máquinas interrogativas: “Ulisses”, “Filhos e Amantes”, “O Doutor Fausto”, “O Processo”, “A Morte de VirgĂlio”, “O Som e a FĂşria”, “Debaixo do VulcĂŁo”, “A Obra ao Negro”, “Lolita”, “Diário do LadrĂŁo”, todos os romances de CĂ©line como se fossem um sĂł, alguns outros, antes, agora. Os romances de Agustina Bessa-LuĂs, porventura os menos amados, sĂŁo entre nĂłs as quase Ăşnicas máquinas vivas de perguntar.
Pelejam os ladrões, descobrem-se os furtos.
Há ladrões que não se castigam, mas que nos roubam o mais precioso: o tempo.
O prazer Ă© um ladrĂŁo para o negĂłcio.
No jogo, começa-se por ser logrado e acaba-se por ser ladrão.
A Rua Dos Cataventos – XVII
Da vez primeira em que me assassinaram,
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.
Depois, a cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha.Hoje, dos meu cadáveres eu sou
O mais desnudo, o que nĂŁo tem mais nada.
Arde um toco de Vela amarelada,
Como único bem que me ficou.Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada!
Pois dessa mĂŁo avaramente adunca
NĂŁo haverĂŁo de arracar a luz sagrada!Aves da noite! Asas do horror! Voejai!
Que a luz trĂŞmula e triste como um ai,
A luz de um morto nĂŁo se apaga nunca!
Os grandes ladrões enforcam os pequenos.
A juiz ladrão, com os pés na mão.
Riqueza abandonada, ensina-nos a ser ladrões.
O que rouba a confiança dos homens é o maior dos ladrões.
O ciúme é um latido que atrai os ladrões.