Textos sobre Romances de Rafael Chirbes

2 resultados
Textos de romances de Rafael Chirbes. Leia este e outros textos de Rafael Chirbes em Poetris.

Os Únicos Casamentos Felizes

É evidente que os únicos casamentos felizes são os de conveniência, funcionam às mil maravilhas, sem conflitos, porque cada um sabe que a realização das suas ambições depende da aliança com o outro. Dá gosto ver como trabalham em equipa os casais que entenderam essa ideia (casamento = sociedade limitada). Desenvolvem-se como uma empresa, apoiando-se um ao outro sem hesitar, cada um deles especializado numa determinada atividade para obterem o máximo rendimento do seu investimento, pois sabem que os ganhos de um beneficiarão os dois. As discussões em público, as desavenças, os anúncios de separação fazem cair as ações da bolsa social e prejudicam a economia doméstica, há que evitar toda essa merda que os jovens e alguns imbecis publicitam aos quatro ventos, sem se darem conta de que estão a desvalorizar-se. Acreditam no amor e no desamor, na traição e no ciúme, sem entenderem que, quando se mete de permeio isso a que os romances e as revistas cor-de-rosa chamam amor, está tudo fodido. É o fim da paz. Quando alguém te diz que te amará para sempre, a história já começou a meter água. O montanhista não pode ficar eternamente parado no cume que conquistou. Já alcançou o topo.

Continue lendo…

A Incapacidade de Amar Alguém

Para falar com franqueza, não considero grave a incapacidade de amar alguém. O que significa amar? Na sua maioria, as pessoas coabitam sem necessidade de um sentimento que desconhecem até ao momento em que o leem num romance ou o veem num filme. O facto de, à partida, não sabermos o que é, indica talvez que se trata de algo que não existe dentro de nós, que nos é inculcado, ou que importamos. Se não estou em erro, era um velho filósofo francês que dizia que, quando um homem exprime o muito que ama a senhora marquesa, o muito que aprecia a sua inteligência — como é harmoniosa nos seus movimentos, que ideias tão extraordinárias tem, que sensibilidade tão requintada exibe —, aquilo que realmente quer dizer é que está doido por foder com ela. Julgo que há aí alguma verdade. Confundimos empatia ou compaixão com desejo, julgamos querer acarinhar, proteger, quando na verdade queremos penetrar, violar.