Os Captivos
Encostados ĂĄs grades da prisĂŁo,
Olham o céo os palidos captivos.
JĂĄ com raios obliquos, fugitivos,
Despede o sol um ultimo clarĂŁo.Entre sombras, no longe, vagamente,
Morrem as vozes na extensĂŁo saudosa.
Cae do espaço, pesada, silenciosa,
A tristeza das cousas, lentamente.E os captivos suspiram. Bandos de aves
Passam velozes, passam apressados,
Como absortos em intimos cuidados,
Como absortos em pensamentos graves.E dizem os captivos: Na amplidĂŁo
Jamais se extingue a eterna claridade…
A ave tem o vĂŽo e a liberdade…
O homem tem os muros da prisĂŁo!Aonde ides? qual Ă© vossa jornada?
Ă luz? ĂĄ aurora? ĂĄ immensidade? aonde?
â PorĂ©m o bando passa e mal responde:
Ă noite, ĂĄ escuridĂŁo, ao abysmo, ao nada! âE os captivos suspiram. Surge o vento,
Surge e perpassa esquivo e inquieto,
Como quem traz algum pezar secreto,
Como quem soffre e cala algum tormento.E dizem os captivos: Que tristezas,
Que segredos antigos, que desditas,
Caminheiro de estradas infinitas,
Te levam a gemer pelas devezas?
Passagens sobre ClarÔes
103 resultadosAs Vozes do SilĂȘncio
As estĂĄtuas de OlĂmpia, que tanto contribuem para nos ligar Ă GrĂ©cia, alimentam contudo tambĂ©m, no estado em que chegaram atĂ© nĂłs – esbranquiçadas, quebradas, isoladas da obra integral -, um mito fraudulento da GrĂ©cia, nĂŁo sabem resisitir ao tempo como um manuscrito, mesmo incompleto, rasgado, quase ilegĂvel. O texto de HerĂĄclito lança-nos clarĂ”es como nenhuma estĂĄtua em pedaços pode fazer, porque o significado Ă© nele deposto de maneira diferente, Ă© concentrado de forma diferente do que estĂĄ concentrado nelas, e porque nada iguala a ductilidade da palavra. Enfim, a linguagem diz, e as vozes da pintura sĂŁo as vozes do silĂȘncio.
Réquiem Do Sol
Ăguia triste do TĂ©dio, sol cansado,
Velho guerreiro das batalhas fortes!
Das ilusĂ”es as trĂȘmulas coortes
Buscam a luz do teu clarĂŁo magoado…A tremenda avalanche do Passado
Que arrebatou tantos milhÔes de mortes
Passa em tropel de trĂĄgicos Mavortes
Sobre o teu coração ensangĂŒentado…Do alto dominas vastidĂ”es supremas
Ăguia do TĂ©dio presa nas algemas
Da Legenda imortal que tudo engelha…Mas lĂĄ, na Eternidade, de onde habitas,
Vagam finas tristezas infinitas,
Todo o mistério da beleza velha!