A competição é só civilizadora enquanto estímulo; como pretexto de abater a concorrência, é uma contribuição para a barbárie.
Frases de Agustina Bessa-Luís
110 resultadosQue é amar senão inventar-se a gente noutros gostos e vontades? Perder o sentimento de existir e ser com delícia a condição de outro, com seus erros que nos convencem mais do que a perfeição?
A guerra é apetecível. Não me venham dizer que a guerra é obra de generais e de caudilhos. A multidão sabe perfeitamente que vai para uma orgia.
A amizade exige a cortesia. Não é como o amor, que, pela sua áurea mudança, se adapta à confidência e ao desembaraço narrativo.
A melhor impressão que a poesia nos pode dar é esta: ficar de coração vagabundo, deixando a vareja estalar na janela as asas grossas, e não dar por isso, como um cão surdo.
Eu admiro os grandes parados. Em geral são pessoas de grande perspicácia. O movimento produz calor, mas não aguça a inteligência.
A existência do homem adulto não encerra senão monotonia. A paixão não procede das pessoas, mas de algo a que elas têm de obedecer para não cumprirem apenas uma vida sem impulso e sem fantasia.
Goza de alegria o que não encontra no mundo atractivo maior do que a virtude desconhecida.
O ser civilizado é uma aberração. É perverso.
O saber precisa de ser visto com a idiotia que ele próprio comporta, com o jogo de certezas que uma época tem por inevitáveis mas não por permanente. Um mundo sem idiotas é um mundo saturado de falsa dignidade.
A razão é como a mulher honestíssima e sem parentes, que em tudo está falta de auxílio e de liberdade.
O amor dos animais contém muito da desaprovação pelos seres humanos e é próprio dum melindroso estado de revolta que não encontrou a sua linguagem.
Pode-se não recordar os insultos; mas guarda-se deles um amargo de experiência, feia como uma cicatriz. E isso envelhece a alma, torna-a ruinosa e inútil.
Há três maneiras de viver numa civilização: com as convicções partidárias, com o julgamento dinâmico do homem livre, ou com os impulsos do coração. Todas elas podem ser honrosas ou infames; depende da inspiração que sofrem umas das outras. Pois nada é completamente necessário senão na medida em que depende duma outra realidade.
Uma nação não nasce de uma ideia nobre, embora esteja preparada para provar a sua nobreza em qualquer conjectura adversa aos seus direitos de justiça.
A arte de oprimir os povos foi-se modificando. A ambição sofreu grandes alterações. Agora os homens usam de conteúdo cultural, violador de multidões na sua conduta; não é a força do braço nem o nome de família que alimentam o seu prestígio – é antes a energia duma convicção que se imponha pela utilidade que prometem.
As revoluções só se detêm com as guerras. As nações, cada vez mais enredadas nas suas embaraçosas decisões, hão-de por fim querer sair delas através dum risco cego, duma experiência que pareça resumir a verdade conjuntural.
Que a extravagância não seja nada de prático é o que se acredita e se divulga. Mas, na verdade, trata-se duma virtude pela qual o homem prático, o autêntico, dará todo o sangue das suas veias.
Quase ninguém repara em ninguém. Em parte porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo.
Uma nação não nasce duma ideia. Nasce dum contrato de homens livres que se inspiram nas insubmissões necessárias ao ministério dos povos sobre os seus infortúnios.