Frases de Agustina Bessa-Luís

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Frases de Agustina Bessa-Luís. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

As revoluções só se detêm com as guerras. As nações, cada vez mais enredadas nas suas embaraçosas decisões, hão-de por fim querer sair delas através dum risco cego, duma experiência que pareça resumir a verdade conjuntural.

Que a extravagância não seja nada de prático é o que se acredita e se divulga. Mas, na verdade, trata-se duma virtude pela qual o homem prático, o autêntico, dará todo o sangue das suas veias.

Quase ninguém repara em ninguém. Em parte porque o espaço que nos circunda está cheio de chamadas, de perigos e de júbilos; o ser humano, longe do que se pensa, é o que menos se nota no mundo.

Uma nação não nasce duma ideia. Nasce dum contrato de homens livres que se inspiram nas insubmissões necessárias ao ministério dos povos sobre os seus infortúnios.

Os tempos são ligeiros e nós pesados, porque nos sobram recordações. Quem se alimenta delas sofre e descuida as alegrias, mesmo que sejam rápidas e se escondam da nossa razão.

Cólera – liberta o coração para razões que prolongam o desejo de viver. Quem não se encoleriza acaba por pedir socorro por meio de doenças, obsessões e livros de viagens.

Um povo já não acredita nas promessas dos governantes, porque perdeu a vontade fanática que o levava a acreditar e a tecer razões para isso.

Os homens têm necessidade da culpa porque ela funciona como um excitante para criar. Têm que criar as excitações da culpa. Têm que ser criminosos. É tão simples como isso.

A arte não pode ser política, nem sujeição social, nem glosa duma ideia que faz época; nem mesmo pode estar de qualquer forma aliada ao conceito «progresso». É algo mais. É o próprio alento humano para lá da morte de todas as quimeras, da fadiga de todas as perguntas sem solução.

Não há exemplo duma ideia que, por excelente que seja, se desenvolva ao nível do quotidiano. Sofre de toda a espécie de mutações antes de entrar na carreira do lugar-comum, que é onde acabam todas as grandes ideias.

Animais – eles são a medida da nossa paz com o mundo criado; eles são um dado de consolação porque não mudam para como quem tanto muda como nós, humanos.

Na experiência humana não há unidade, tudo são esforços inéditos; só que muito frequentemente o fracasso os torna iguais entre si.

A rapidez que as pessoas imprimem às suas vidas faz com que simplifiquem a realidade e fabriquem o que se chama a «personalidade do momento». Sobretudo nos políticos e homens à escala governativa, isso exprime-se por manifestações impulsivas, peculiares a cada hora, vinculadas às situações proteiformes.

A sociedade prosseguirá em estado de violência, porque o homem não prescinde da sua enfermidade moral que é achar-se inútil num mundo que não criou.

Nós, as mulheres, o que nos faz amar um homem é aparentá-lo com tudo o que amamos – o tempo da crise, da puberdade, da gestação, do enigma; os primeiros rostos, as primeiras carícias, os primeiros medos.

A sabedoria seduz mais do que a mulher; até porque mais depressa se atinge a sabedoria, do que se encontra uma mulher perfeita.

Só se pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta. De facto, o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação.

Como artista, tenho que crer que não há ideias irrefutáveis. A Inteligência sempre se contradiz. O homem de espírito é um eterno devir, a negação das ideias irremovíveis. Se eu julgasse as minhas ideias nítidas e categóricas, faria testamento delas, e, depois, deitar-me-ia entre círios, para morrer.