Um povo já não acredita nas promessas dos governantes, porque perdeu a vontade fanática que o levava a acreditar e a tecer razões para isso.
Frases de Agustina Bessa-Luís
110 resultadosOs homens têm necessidade da culpa porque ela funciona como um excitante para criar. Têm que criar as excitações da culpa. Têm que ser criminosos. É tão simples como isso.
A arte não pode ser política, nem sujeição social, nem glosa duma ideia que faz época; nem mesmo pode estar de qualquer forma aliada ao conceito «progresso». É algo mais. É o próprio alento humano para lá da morte de todas as quimeras, da fadiga de todas as perguntas sem solução.
Não há exemplo duma ideia que, por excelente que seja, se desenvolva ao nível do quotidiano. Sofre de toda a espécie de mutações antes de entrar na carreira do lugar-comum, que é onde acabam todas as grandes ideias.
Animais – eles são a medida da nossa paz com o mundo criado; eles são um dado de consolação porque não mudam para como quem tanto muda como nós, humanos.
Na experiência humana não há unidade, tudo são esforços inéditos; só que muito frequentemente o fracasso os torna iguais entre si.
A rapidez que as pessoas imprimem às suas vidas faz com que simplifiquem a realidade e fabriquem o que se chama a «personalidade do momento». Sobretudo nos políticos e homens à escala governativa, isso exprime-se por manifestações impulsivas, peculiares a cada hora, vinculadas às situações proteiformes.
A sociedade prosseguirá em estado de violência, porque o homem não prescinde da sua enfermidade moral que é achar-se inútil num mundo que não criou.
Nós, as mulheres, o que nos faz amar um homem é aparentá-lo com tudo o que amamos – o tempo da crise, da puberdade, da gestação, do enigma; os primeiros rostos, as primeiras carícias, os primeiros medos.
A intimidade excessiva desencadeia a hostilidade.
A sabedoria seduz mais do que a mulher; até porque mais depressa se atinge a sabedoria, do que se encontra uma mulher perfeita.
Só se pode sentir a evidência das coisas até um certo ponto: além disso, ou nos rebaixamos ou nos aproximamos do sentimento superior que nos liberta. De facto, o verdadeiro estado de liberdade é o de ultrapassar a imaginação.
Como artista, tenho que crer que não há ideias irrefutáveis. A Inteligência sempre se contradiz. O homem de espírito é um eterno devir, a negação das ideias irremovíveis. Se eu julgasse as minhas ideias nítidas e categóricas, faria testamento delas, e, depois, deitar-me-ia entre círios, para morrer.
Quando alguém se entrega ao ofício de ensinar, com uma fé conspícua e soberana, acreditem que a desilusão vive nele, como as ondinas num lago, como no elemento que as criou.
A essência das coisas não está na filosofia, nem na política, nem em qualquer função intelectual. Está na reciprocidade do inconsciente que não encadeia só o que é humano, mas até o que é apenas vegetal ou inerte.
Nada se aprende das recordações; são um manjar frio que só os gulosos devoram.
É extraordinário como nos tornamos violentos quando queremos agradar ao mundo. Agradar ao mundo resume o comportamento da sociedade nos seus aspectos mais retóricos.
Se há alguém que não se interessa pelos poetas, são as mulheres. As paixões que as palavras desencadeiam, isso as mulheres recebem no código que a poesia contém.
O prazer da reflexão deriva duma condição que se presume essencialmente masculina, a da interrogação. O homem interroga, a mulher escolhe. Isto estabelece a mútua dependência dos sexos.
O que é um poeta, afinal? Uma intacta opressão da alma.