O Suicida
Não restará na noite uma só estrela.
Não restará a noite.
Morrerei e comigo irá a soma
Do intolerável universo.
Apagarei medalhas e pirâmides,
Os continentes e os rostos.
Apagarei a acumulação do passado.
Farei da história pó, do pó o pó.
Estou a olhar o último poente.
Oiço o último pássaro.
Lego o nada a ninguém.
Passagens de Jorge Luis Borges
126 resultadosNão odeies o teu inimigo, porque, se o fazes, és de algum modo o seu escravo. O teu ódio nunca será melhor do que a tua paz.
A velha mão segue traçando versos para o esquecimento.
A imagem que um homem só pode conceber é a de que não toca ninguém.
A única coisa sem mistério é a felicidade porque ela se justifica por si só.
É um império essa luz que se apaga ou um vaga-lume?
Sob a lua a sombra que se alonga é uma só.
Nostalgia do Presente
Naquele preciso momento o homem disse:
«O que eu daria pela felicidade
de estar ao teu lado na Islândia
sob o grande dia imóvel
e de repartir o agora
como se reparte a música
ou o sabor de um fruto.»
Naquele preciso momento
o homem estava junto dela na Islândia.Tradução de Fernando Pinto do Amaral
Hoje não me alegram as amendoeiras do horto. Me lembro de ti.
A poesia é algo tão íntimo que não pode ser definida.
A vasta noite não é agora outra coisa se não fragrância.
O original não é fiel à tradução.
Creio que uma forma de felicidade é a leitura.
A censura é a mãe da metáfora.
Sem leitura não se pode escrever. Tão-pouco sem emoção, pois a literatura não é, certamente, um jogo de palavras. É muito mais. Eu diria que a literatura existe através da linguagem, ou melhor, apesar da linguagem.
Fazer o bem ao teu inimigo pode ser obra de justiça e não é árduo; amá-lo, tarefa de anjos e não de homens.
A democracia é um erro estatístico, porque na democracia decide a maioria e a maioria é formada de imbecis.
Quando os escritores morrem, eles se transformam nos seus livros. O que, pensando bem, não deixa de ser uma forma interessante de reencarnação.
Fica-se enamorado quando se dá conta de que a outra pessoa é única.
Do que Nada se Sabe
A lua ignora que é tranquila e clara
E não pode sequer saber que é lua;
A areia, que é a areia. Não há uma
Coisa que saiba que sua forma é rara.As peças de marfim são tão alheias
Ao abstracto xadrez como essa mão
Que as rege. Talvez o destino humano,
Breve alegria e longas odisseias,Seja instrumento de Outro. Ignoramos;
Dar-lhe o nome de Deus não nos conforta.
Em vão também o medo, a angústia, a absortaE truncada oração que iniciamos.
Que arco terá então lançado a seta
Que eu sou? Que cume pode ser a meta?